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Factos irrelevantes na PT

A história da OPA da Sonae à PT é escrita com muitos protagonistas que não aparecem. Vai desenrolar-se com outros que entretanto se calaram. E o seu desfecho terá, provavelmente, actores que não entraram em cena. Ainda. Passou um mês e apenas duas posiçõe

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No jogo de sombras desta «guerra» de argumentos, falta o veredicto da Concorrência, da CMVM, do Governo, da administração, dos principais accionistas. Dito de outro modo, nada se sabe de todos aqueles que têm o poder de ditar a sorte ou a morte desta operação.

Há uma forma mais cruel de dizer isto: apesar do esforço, não obstante a qualidade e o profissionalismo do trabalho da imprensa especializada, nada de realmente relevante foi, nas últimas semanas, desvendado para o rumo desta OPA.

Não se sabe se o eng. Sócrates e o seu Governo estão felizes da vida com a iniciativa da Sonae – embora se desconfie que sim.

Não se sabe se Abel Mateus e a sua Autoridade vão aproveitar esta oportunidade para fazer as «correcções de mercado» que há muito pediam no sector das telecomunicações – embora se admita que sim, o que pressupõe aprovar a controversa fusão dos dois operadores móveis.

Não se sabe o que quer a Telefonica. Não se sabe a inclinação dos investidores institucionais estrangeiros. Não se sabe se o BES está quieto – embora se suspeite que não. E também não se sabe qual é a posição da administração da PT – embora ninguém duvide que é contra.

Finalmente, não se sabe quem poderá vir por aí, se alguém estará a trabalhar a sério numa OPA concorrente – embora o professor Marcelo garanta que sim – e a que preço.

A versão oficial da OPA é, como em qualquer OPA, muito menos interessante que as pequenas histórias que vão fazer a história da operação.

Oficialmente os gestores da PT estão ausentes, mas trabalham intensamente na implosão desta oferta. Oficialmente têm de definir o «preço justo», mas oficiosamente preparam uma autêntica guinada estratégica, inspirando-se na barragem, bem sucedida, que o management da Marks&Spencer fez à OPA de que estava a ser alvo.

Oficialmente o Governo não tomou uma decisão, mas ninguém se espanta que a «golden-share» seja desactivada, caso a Sonae assegure três coisas: fim do monopólio no mercado nacional, crescimento internacional e controlo nacional.

Não está fácil ser jornalista de economia neste país, quando esta guerra de nervos não tem rosto e quando é feita, precisamente, através dos jornais. Não é fácil, mas é fascinante. Porque é nestas ocasiões, únicas, que se formam os laços de confiança. Entre os jornalistas e quem os informa. E, por conseguinte, entre os jornais e os seus leitores.

Não fazemos proclamações virtuosas, porque já cometemos erros e vamos seguramente cometer mais. É imbecil garantir a perfeição. Mas é no dia a dia, é nos dias que correm, que ficam à prova as convicções de uma a linha editorial, a firmeza e a segurança perante o «off-the-record». A jornalista Lúcia Crespo escreve uma peça imperdível sobre esta restrição. Estamos certos que é a forma mais saudável de lidar com a situação. Que melhor prova de transparência lhe podemos dar senão assumir que ela não existe?

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