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24 de Outubro de 2008 às 13:00

Donas de casa desesperadas

O plano era este: pôr a economia a crescer à custa de obras públicas, com investimentos privados, financiados pela banca a banca estrangeira, pois a portuguesa não basta. Fazia sentido. Mas espere sentado: não há dinheiro. E quando o há, ele é caro.

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O programa de 30 mil milhões de euros em obras lançadas nos próximos anos deixou de ser ambicioso e passou a ser megalómano. As estradas serão adiadas. E veremos o que acontece ao TGV, aeroporto, ponte, hospitais, barragens; à privatização da Ana...

A culpa é da crise financeira, da dificuldade do acesso ao crédito, do aumento dos prémios de risco, da necessidade de envolver mais capital próprio. O Governo não tem culpa nesse cartório, mas tem de engolir mais uma vez o que disse, repetiu e sublinhou com marcador fosforescente: adia e reconhece que os avisos dos privados não eram pressões negociais de quem quer lucrar mais, mas preocupações de quem quer OK do banco.

Mário Lino disse que o dinheiro apareceria na Hora H. Só apareceu a Bomba H: os concursos foram adiados e ameaçando ficar desertos. Talvez já arrependido de ter mudado, num ano como este, a Estradas de Portugal de EP, EP para EP, SA, o Ministério mandou assinar cartas com garantias aos bancos. As auto-estradas Transmontana e Douro Interior conseguiram, assim, ter o compromisso dos bancos para parte (mas só parte) do investimento previsto e, mesmo assim, pagando prémios quatro e cinco vezes maiores do que no bom tempo.

Mesmo nessas, a Caixa Geral de Depósitos teve de chegar-se à frente. À falta de bancos estrangeiros para financiar as estradas do Governo, apareceu o banco do Estado, que engoliu em seco e cruzou os dedos à espera de poder mais tarde repartir o cheque com outros bancos. O banco do Estado assumiu os riscos que os bancos privados não estão dispostos a correr.

A culpa é da crise, mas a crise tem servido de pretexto para demasiada coisa. O Governo foi irrealista quando lançou todas estas estradas, já em plena crise financeira, mas quando não se lhe conhecia a faceta pior. Fê-lo sem os estudos de tráfego, técnicos e financeiros que a envergadura dos projectos exigia. A pressa em pôr a economia a crescer e o desemprego a descer foi má conselheira, e a intuição falhou às evidências.

O que fazer? Adiar. Adiar os projectos. Adiar os pagamentos. Como este jornal ontem revelava, os encargos do Estado em parcerias com privados dispararam 52% num ano e o seu pagamento foi já atirado para lá da próxima legislatura (ver gráfico abaixo).

A bola de neve vai rolando para a frente e, nisso, ficando cada vez maior. Gerir uma economia como uma dona de casa, por intuição e a fiado, sai sempre caro. Se não aos actuais contribuintes, aos seus filhos.




O que mudou num ano Previsão de encargos líquidos do Estado com PPP

O gráfico diz tudo: do OE 2008 para o OE 2009, os encargos com Parcerias Público-Privadas disparam 52%. E o grosso dos custos para o Estado é empurrado para depois de 2013.

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