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17 de Setembro de 2004 às 13:59

De bestial a besta

Pedro Líbano Monteiro entrou na presidência do ICEP em Julho de 2002 com a aura de gestor privado de sucesso para reestruturar o instituto. Um ano depois acumulava com a presidência do IAPMEI. E um ano depois entrava em rota de colisão com o então ministr

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Poderia Líbano Moteiro ter capital de queixa pelo facto de ter sido o último a saber das mudanças arquitectadas pelo ministro. Sendo assim, logo poderia ter batido com a porta. Ou o ministro ter-lhe indicado a saída. Como é habitual neste país de brandos costumes, preferiram manter a guerra em lume brando e ir dando tiros nos bastidores.

Mudou o ministro mas nem por isso o clima melhorou entre Líbano Monteiro e a tutela, agora a cargo do seu amigo Álvaro Barreto. Há vários dias que corria nos corredores do instituto que a mudança da administração estava iminente. Tão iminente que o próprio terá preferido, finalmente, tomar a iniciativa.

Os momentos de danças de cadeiras - tão frequentes nos últimos dias - são bons para balanço. E o balanço da re-estruturação saldou-se por uma redução significativa nos custos com pessoal e de estrutura em 2003, ano em que foi concretizada a fusão dos «back offices» dos dois institutos. Se esse é um louro atribuível à gestão de Líbano Monteiro, a actividade promocional que é a principal razão de ser do ICEP terá passado para segundo plano, perdida entre as vacas magras orçamentais, a mudança para o modelo agora centrado na diplomacia económica e a concentração de esforços no Euro 2004, enquanto no IAPMEI as empresas ainda não sentiram a agilização dos procedimentos que lhes foi prometida. Sem esquecer que, entretanto, o ICEP perdeu para a API as funções relacionadas com o investimento estrangeiro.

A mexida das sedes é, no meio de tudo isto, um episódio menor. Justificada com a aproximação às PME, predominantes no tecido económico da região Norte, parece mais motivada por tácticas político-mediaticas do que pelo real efeito descentralizador.

Manuel Carlos Silva, o novo homem forte do ICEP, tem sobre o seu antecessor a vantagem de conviver bem com a ponte áerea entre Lisboa e Porto. Conhecedor da realidade do calçado, é considerado um dos artífices do modelo de promoção internacional e de subida na cadeia de valor efectuado pelo sector. Esse movimento, que contrasta com as maiores dificuldades registadas nas empresas de têxteis e vestuário, guindaram-no a responsável pelo programa Dínamo, que lhe poderá ter servido de estágio para a nova função.

Manuel Carlos tem pela frente um difícil desafio. Se o seu perfil encaixa como uma luva nas funções de presidente do ICEP, já parece menos talhado para o IAPMEI. O seu sucesso dependerá da qualidade da equipa que for capaz de reunir e da forma como conseguir relacionar-se e mobilizar as empresas.

Convém-lhe é ter consciência da pequena distância que vai de bestial a besta. Que o diga Pedro Líbano Monteiro.

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