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Cravinho não era virtual

Durante anos, o PSD acusou-o de uma absoluta incapacidade para construir estradas, auto-estradas, vias rápidas, o que fosse. Durante os anos em que foi ministro e nos anos seguintes, ele reagiu indignado, dizia-se vítima de uma infâmia. Era verdade. João

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Durante anos, o PSD acusou-o de uma absoluta incapacidade para construir estradas, auto-estradas, vias rápidas, o que fosse. Durante os anos em que foi ministro e nos anos seguintes, ele reagiu indignado, dizia-se vítima de uma infâmia.

Era verdade. João Cravinho, realmente, foi responsável pela adjudicação de mais quilómetros de alcatrão do que todos os seus antecessores juntos.

E advinhe quem o está a culpar de tamanho despautério? O PSD. Que, agora noGoverno, garante não existirem recursos no Orçamento de Estado para pagar sequer uma parte do plano rodoviário herdado dos socialistas.

Cravinho está, portanto, absolvido do crime da mentira. O homem estava a ser completamente sincero e os outros é que eram demagógicos. Ele apenas foi irresponsável. Fiscalmente inimputável - diria o doutor Louçã.

O pecado de Cravinho - e, em geral, dos socialistas - foi outro: omitiram, deliberadamente, a factura dos compromissos que estavam a ser assumido pelo Estado,em investimentos suportados pelos privados.

As famosas PPP, parcerias público-privadas, foram criadas para as estradas, e provavelmente até foram a opção mais racional do ponto de vista económico. E até a mais correcta, do ponto de vista orçamental.

Tão racional e tão correcta, que este Governo aprofundou o sistema nos hospitais e outras áreas que carecem de avultados recursos. Não obstante os ataques que, quer às PPP, quer ao sistema de financiamento em leasing, os doutores Rui Rio e Manuela Ferreira Leite, então deputados, então também faziam.

O problema das SCUT só é financeiro porque não houve noção da medida. Só agora percebemos - e ontem Carmona Rodrigues voltou a recordar números já conhecidos - que o Estado terá de suportar, já em 2006, mais de 700 milhões de euros por ano. Ou seja, todo o orçamento do IEP e mais um reforço de 100 milhões.

A questão essencial que as portagens virtuais levantam é, acima de tudo, um problema de justiça. Pois carregam uma perversão social. A tradicional questão de submeter ao habitante de Trás-os-Montes a conta de uma auto-estrada no Algarve para os turistas alemães passearem.

Já que o PSD não se livra de contradizer no Governo os seus próprios argumentos na oposição, pelo menos que seja coerente com as decisões que já tomou no poder.

É tão legítimo e defensável desmantelar as SCUT, renegociar contratos com os privados e introduzir portagens, como foi legítima e aqui aplaudida a coragem de corrigir a absurda situação da CREL. Além de ser uma refrescante decisão, do ponto de vista político.

Se a Carmona Rodrigues não acontecer aquilo que aconteceu a Amílcar Theias, se a substituição das SCUT avançar realmente dentro de duas semanas para Conselho de Ministros, está o ex-autarca de Santana Lopes a recuperar o estilo reformista e corajoso que marcou, sobretudo, o primeiro ano de mandato deste Governo.

Das duas alternativas conhecidas, uma é a mais justa outra é a mais fácil. Qualquer uma, muito melhor que a que temos.

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