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Azambuja: primeiro teste

O investimento estrangeiro é um negócio de ricos. São as multinacionais que mais investem além fronteiras. Também sempre foram as economias mais prósperas a atrair IDE. Entre 1996 e 2002, quase 70% do bolo. A concorrência já é, portanto, fortíssima há mui

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Mais ainda com a entrada da China no comércio livre.

É só neste contexto, e não noutra fantasia qualquer, que o conflito laboral da «nossa» Opel na Azambuja deve ser encarado. A greve de ontem levou à paragem da linha de produção e implicou a perda de 320 veículos. Não é nada, comparado com tudo. E é tudo o que aquela gente vai perder.

Todos os inquéritos conhecidos apontam para um conjunto de factores que os potenciais investidores estrangeiros valorizam.

A estabilidade macroeconómica. O funcionamento do sistema judicial. A transparência e eficácia da administração pública. A qualidade das infraestruturas físicas. Do capital humano. A flexibilidade dos mercados de bens e factores.

Curiosamente, a geografia não é uma condicionante forte. O que arruma as lamechas nacionais em torno da nossa periferia. Taiwan é menos periférico que Portugal? A Finlândia não é periférica?

Não, mas apresentam vantagens comparativas. Qualquer país, para cativar um investidor, tem de provar que é melhor que todos os outros. Nem que seja por um e único motivo.

Que já não são os subsídios estatais. Isso todos dão. Há muito tempo, aliás. A mesma Opel, por exemplo, foi em 1989 pedir a Taiwan incentivos para instalar lá uma fábrica e recebeu uma valente «tampa». Estavam três anos atrasados.

Depois da tomada de posse, amanhã, o novo primeiro-ministro deve olhar atentamente para a Azambuja. E pedir aos ministros que escolheu para tratar da Economia e do Trabalho que reparem no que ali está a acontecer, na «nossa» Opel.

Não é obviamente para entrar nas negociações, porque isso seria ridículo. Apenas para perceber as razões do conflito laboral. O que a administração pede, quando fala em flexibilidade. Até que ponto são razoáveis as exigências dos trabalhadores.

Se calhar, até conclui que as necessidades da empresa são inquestionáveis. E que os sindicatos têm razão. Mas não há acordo. A multinacional faz chantagem e ameaça ir embora.

Como vai avançar para a revisão do Código de Trabalho, o Governo socialista já esclareceu que pretende equilibrar a relação de forças, protegendo os trabalhadores. Faz bem. E o capital, que não tem pátria, foge para a China.

No país de origem, a General Motors despede. Um número crescente de países permite-lhe fazer isso. Em Portugal, nem é isso que está em causa neste conflito com os sindicatos. É algo mais fácil de compreender: se a procura cai, a produção deve abrandar; o contrário também é válido. Há que gerir a quantidade de trabalho em função disto.

Sócrates toma posse, mira Azambuja e pergunta: qual é a nossa vantagem comparativa no mundo? como está a nossa burocracia? e a justiça? e o capital humano? Entende o novo IDE que já não vem. Então avança para a revisão laboral que os camaradas pedem. Lá se vai o IDE que ainda tem.

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