Opinião
Anões entre titãs
Vamos, por momentos, esquecer que nesta história existem ministros, gestores ou accionistas. Vamos imaginar apenas que temos países, empresas e mercados. Há um país, Espanha, cinco vezes maior que o outro, Portugal. Tem a seu favor, portanto, a vantagem d
O pequeno precisa, por conseguinte, de se afirmar por outros atributos: agilidade, rapidez, flexibilidade, criatividade, pragmatismo.
Ou seja, depende bastante das qualidades da sua gente. E da forma como valoriza os seus recursos. Entre eles, os recursos energéticos. Por todos classificados como estratégicos.
A diferença de tamanho entre economias é enorme, mas nem sempre foi assim com as empresas. No caso deste sector, a segunda eléctrica espanhola (Iberdrola) tinha a mesma dimensão da nacional (EDP). E esta, por sua vez, valia o dobro da Unión Fenosa, a terceira do mercado vizinho.
Vários cenários de fusão foram abertos. Com a Iberdrola chegou-se à fase da discussão da sede. A Fenosa sempre revelou vontade de casamento. O mais longe que se chegou foi a parceria, coxa e que o tempo se ocupou de destruir entre a EDP e a Iberdrola.
Faltou pragamatismo.
Por cá nunca faltaram planos. À procura da tal escala. Preparados em gabinetes. Não negociados. O gás sai da Galp para a EDP. A Galp tornou-se inimiga do plano. Nem precisava. A fusão proposta a Bruxelas, gás com electricidade, era uma ameaça à concorrência em Portugal. E era, de facto!
Passou quase um ano, mas não passou mais nada. O modelo foi chumbado e há seis meses que a alternativa não passa de um esboço. Diz-se, em versões oficiosas, que a Galp não perde o gás e avança para a electricidade, enquanto a EDP mantém a electridade e entra no gás.
Mais concorrência. Entre nós. Subitamente, algo de parecido acontece no outro lado da fronteira.
A Gas Natural lança OPA hostil sobre a Endesa. O maior gasista faz um ataque de leão ao sector eléctrico. E acorda transferir activos de 8 mil milhões, sobretudo de gás, para Iberdrola – que se transforma na maior eléctrica do país e recebe 30% do mercado de gás natural.
O irritante paradoxo desta história é que ela está muito bem montada. Os espanhóis propõem-se criar um gigante mundial e ainda podem provar que isso aumenta a concorrência. Antes disso, envolvem o natural inimigo desta operação e transformam-no num cúmplice.
Moral da história: o país que não tinha um problema de escala está a um passo de se tornar maior e mais forte, porque é rápido nas decisões, é criativo nas soluções, é pragmático diante dos dilemas. Ou seja, aquilo que o país pequeno deveria ter sido e não foi.
Se a operação Gas Natural / Endesa falhar, falha no mercado. É aí que o jogo está a decorrer. Não nos bastidores da política e da burocracia. Nessa luta de titãs, entre Madrid e Catalunha, entre o PSOE e o PP, um já perdeu: o nosso querido país.
Em oito anos, a Iberdrola já vale duas EDP e meia e a Fenosa duplicou o tamanho. Celebremos o esforço de, agora, tentar um quinto daquilo que facilmente poderiamos ter conquistado na totalidade.