Opinião
A virtude do pessimismo
O robô Sophia foi uma das estrelas do Web Summit. Num diálogo com outro robô, apropriadamente baptizado de Einstein, Sophia sentenciou: "Conheço muitas pessoas que têm medo de que a inteligência artificial destrua a humanidade e lhes tire o trabalho. Nós, robôs, não temos vontade de destruir nada, mas vamos tirar-vos os empregos."
Mais à frente, numa conversa com jornalistas, o robô Sophia tentou suavizar a sua predição: "Ninguém rouba os vossos empregos, o responsável da empresa é que vai escolher dá-lo a outra pessoa." Ou seja, Sophia meteu o ónus da decisão no humano, o que revela também que os robôs aprendem depressa o discurso do passa-responsabilidades.
O World Economic Forum, num estudo de 2016, estima que a quarta revolução industrial se traduza na eliminação de cinco milhões de empregos, os quais serão substituídos pela chamada inteligência artificial. Este caminho é uma fatalidade que Sophia só tornou ainda mais enfática.
A questão de fundo reside na forma como lidar com esta inevitabilidade. Os caminhos da transformação industrial são sempre dolorosos e os ajustamentos a que obriga deixam marcas por muitos e longos anos. Até agora tem-se construído uma narrativa idílica deste admirável mundo novo, mas a verdade é que , em muitos casos anteriores, a tecnologia tem passado por cima de princípios sociais, éticos e políticos. Na mesma proporção em que tem havido debate sobre os benefícios desta quarta revolução, tem faltado reflexão sobre os seus impactos negativos na vida das pessoas e na procura de soluções para os menorizar.
Por exemplo, em Fevereiro deste ano, Bill Gates sugeriu que os governos deveriam taxar as empresas que usem robôs como forma de retardar, pelo menos temporariamente, a propagação da automação e financiar outros tipos de emprego. Uma ideia rejeitada pelos legisladores da União Europeia, segundo os quais uma política desse tipo seria negativa para a competitividade e, pasme-se, para o emprego.
Ora, esta quarta revolução tem todos os ingredientes para eliminar milhares de empresas e milhões de empregos, conduzindo a um aumento das desigualdades e consequente agravamento das tensões sociais.
Esta nova realidade da inteligência artificial e da automação é meio caminho andado para criar um mundo distópico, caso não se tomem medidas preventivas à escala global. Medidas sérias e estruturais que evitem cenários dantescos que até já foram ficcionados. Uma boa estratégia para lidar com esta realidade emergente está contida numa reflexão de Confúcio: "O pessimismo torna os homens cautelosos, enquanto o optimismo torna os homens imprudentes." É também isto que nos distingue dos robôs.
O World Economic Forum, num estudo de 2016, estima que a quarta revolução industrial se traduza na eliminação de cinco milhões de empregos, os quais serão substituídos pela chamada inteligência artificial. Este caminho é uma fatalidade que Sophia só tornou ainda mais enfática.
Por exemplo, em Fevereiro deste ano, Bill Gates sugeriu que os governos deveriam taxar as empresas que usem robôs como forma de retardar, pelo menos temporariamente, a propagação da automação e financiar outros tipos de emprego. Uma ideia rejeitada pelos legisladores da União Europeia, segundo os quais uma política desse tipo seria negativa para a competitividade e, pasme-se, para o emprego.
Ora, esta quarta revolução tem todos os ingredientes para eliminar milhares de empresas e milhões de empregos, conduzindo a um aumento das desigualdades e consequente agravamento das tensões sociais.
Esta nova realidade da inteligência artificial e da automação é meio caminho andado para criar um mundo distópico, caso não se tomem medidas preventivas à escala global. Medidas sérias e estruturais que evitem cenários dantescos que até já foram ficcionados. Uma boa estratégia para lidar com esta realidade emergente está contida numa reflexão de Confúcio: "O pessimismo torna os homens cautelosos, enquanto o optimismo torna os homens imprudentes." É também isto que nos distingue dos robôs.
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