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A guerra que se diz comercial

A guerra que Donald Trump abriu com a União Europeia e a China, entre outros, tem sido apelidada como uma guerra comercial. É verdade que pode ser assim catalogada, porque assume a forma de taxas alfandegárias sobre as importações, mas é também evidente que é muito mais do que isso.

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O comércio é a ferramenta, poderosa, que o presidente norte-americano está a usar para criar uma nova arquitectura de poder à escala global, ressuscitando a bipolaridade EUA-Rússia dos tempos da Guerra Fria. Para o conseguir, Trump adoptou uma táctica de hostilização permanente com os mais diversos países, exceptuando a Rússia.

 

Assim de memória, Trump hostilizou o México, o Canadá, a China e a União Europeia, chantageou os parceiros da NATO e admoestou o Reino Unido por estar a ser brando no Brexit. Pelo caminho atacou a Coreia do Norte e o Irão e cometeu a proeza de transferir a embaixada norte-americana de Telavive para Jerusalém. O inquilino da Casa Branca consegue a proeza de ir somando inimigos a uma velocidade vertiginosa.

 

Aliás, basta fazer uma pesquisa no Google usando as palavras "Trump ameaça" para perceber que a técnica da intimidação é o ponto forte do presidente norte-americano para obter vitórias destinadas a consumo interno, daqueles que, por má interpretação (ou desconhecimento) da história, continuam a considerar que a "América é grande" se estiver sozinha.

 

Esta guerra que se diz comercial tem um objectivo político claro, o de ressuscitar a antiga ordem mundial. Para tal, Trump necessita de criar desentendimentos na União Europeia e enfraquecer a China, estratégia que se materializa enfraquecendo economicamente ambos os rivais. Sendo que o Brexit dará uma ajuda preciosa neste domínio. A par disso, a desestabilização política noutras zonas do globo, Ásia e Médio Oriente contribui de forma substantiva para aumentar os receios e gerar a instabilidade.

 

A Rússia pode até não ter ajudado Donald Trump na sua eleição, mas a realidade é que o presidente norte-americano está a fazer tudo o que pode para que o país liderado por Vladimir Putin recupere a sua vocação imperial, desbaratada durante o tempo da perestroika. Esta guerra que se diz comercial encerra, em si, um desejo de regresso ao passado.

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