Opinião
Os trabalhos de Macron
A Europa respira de alívio. Não porque Macron ganhou, mas porque o armagedão não entrou no Eliseu. O modo de vida dos europeus, as liberdades de que gozam, e as perspectivas sobre o mundo que deixaremos às próximas gerações podiam ter mudado de forma violenta.
Havendo alívio, não quer dizer que haja fundadas esperanças na capacidade de Macron para salvar o projecto europeu. Há quem manifeste a sua fé – "Macron, a reviravolta da Europa", titulava ontem o La Repubblica; "A esperança ganhou", exultava a Paris Match. Sendo cedo para saber se estará à altura de tamanho desafio, há que reconhecer a coragem com que assume a missão. "Defenderei a Europa, a comunidade de destinos construída pelos povos do nosso continente. É a nossa civilização que está em jogo", garantiu num discurso de vitória virado para dentro, mas também para fora.
Macron tem noção do desafio do seu tempo. Hollande falhou e deixa Macron sem a opção de falhar. Quem aos 39 anos consegue ser eleito com um movimento criado há onze meses e sem o apoio dos partidos tradicionais merece crédito. Mas ele durará alguns dias.
Para ser bem-sucedido, Macron terá de ser capaz de reafirmar o papel de França na União Europeia, reequilibrar o eixo franco-alemão. A noção do directório germânico é uma chaga que todos os dias faz sangrar a coesão da UE e é uma arma nas mãos dos extremistas. Para isso é preciso recuperar o dinamismo económico do país, o que exige reformas que os franceses têm combatido nas ruas e o próprio não conseguiu impor enquanto ministro de Hollande. O estreito caminho para ser bem-sucedido começa por ultrapassar a difícil tarefa de construir um apoio maioritário na Assembleia Nacional. Sem firmar a sua agenda doméstica, Macron não conseguirá afirmar-se em Berlim.
Há motivos para crer numa relação mais frutífera. Além do espírito reformista, o recém-eleito Presidente francês partilha das preocupações com o rigor orçamental de Merkel. Macron defende uma reforma da Zona Euro com maior integração, o que a Alemanha pode comprar. Mais ainda se em vez de Merkel lá estiver Schultz.
Não é só França que tem de mudar. A Alemanha tem de eliminar os seus próprios desequilíbrios, corrigir os excedentes comercial e orçamental, dar o seu contributo para a convergência.
No fim, tudo se jogará na capacidade do eixo franco-alemão para demonstrar que os problemas da região – o baixo crescimento, o desemprego, a desigualdade, a ameaça do terrorismo – se resolvem melhor dentro da Zona Euro e da UE do que fora dela. Por ora, o rio que nos quer levar de volta aos nacionalismos, à intolerância, e à ruptura da Europa não mudou de curso e até aumentou o seu caudal.