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Imobiliário a 38º

Com o dinheiro a render pouco ou nada nos bancos, o imobiliário está a transformar-se numa espécie de capitalismo popular da segunda metade do século XXI. E isso tem riscos.

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O fulgor que se vive no imobiliário é um dos mais poderosos sinais da retoma da economia portuguesa e está a trazer capitais preciosos para o país. O investimento imobiliário bateu recordes em 2017 e este ano o valor deverá ser ainda maior, antecipam as consultoras.

Os negócios sucedem-se a um ritmo quase diário. Um edifício de escritórios reabilitado e vendido por uns milhões ali. Três centros comerciais a mudar de mãos de uma só vez e por centenas de milhões acolá. E o turismo a fazer nascer hotéis um pouco por todo o país.

As taxas de rentabilidade estáveis e superiores a outros mercados maduros da Europa são um chamariz para fundos de pensões ou seguradoras. Até aqui se vê o outro olhar dos investidores sobre Portugal. Quem compra vem numa perspectiva mais de longo prazo. Quem vende são os "hedge funds", os ditos abutres, que compraram quando mais ninguém queria e agora saem por cima.

Depois há os particulares, que procuram presas mais pequenas neste lago de tubarões. As valorizações de encher o olho ajudam a abrir o apetite. O tema entra nas conversas de café como em tempos idos se falava dos ganhos fantásticos das acções.

A febre tem os seus perigos. Há zonas, em Lisboa e Porto, onde se verificaram variações muito expressivas dos preços e sobre as quais já ninguém hesita em falar em bolha. Há quem esteja a vender por muito bons preços, mas outros a comprar por valores arriscados.

Como qualquer febre, esta também tem os seus efeitos secundários. As famílias tremem para encontrar casa a preços comportáveis. A que acresce uma nova vertigem pelo crédito.

Estamos ainda longe dos valores anteriores à crise, mas em Dezembro, pela primeira vez em mais de dois anos, o novo crédito contraído pelas famílias para a compra de casa foi superior àquele que foi saldado junto do banco. Ou seja, o bolo total está a voltar a aumentar, tendência que se acentuará com a subida dos juros.

A febre ainda é baixa, anda pelos 38º. Os reguladores dizem que têm o paracetamol à mão. Esperemos que o usem antes que seja tarde. 
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