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24 de Fevereiro de 2014 às 09:37

Candy Crash

Jan Koum, ainda com 16 anos, fugiu com a mãe à pobreza na Ucrânia. Foram parar à Califórnia, onde nos primeiros anos viveram com senhas de alimentação e alojamento do Estado.

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Jan Koum, ainda com 16 anos, fugiu com a mãe à pobreza na Ucrânia. Foram parar à Califórnia, onde nos primeiros anos viveram com senhas de alimentação e alojamento do Estado. Aos 37 anos, ele e Brian Acton, venderam o WhatsApp ao Facebook por 19 mil milhões de dólares. Um sonho americano, que pode vir a revelar-se um pesadelo para as bolsas.


Koum e Acton são os últimos de uma nova vaga de milionários que enriqueceram com a criação de redes sociais e novas aplicações para smartphones. Ou porque as levaram para a bolsa, como o LinkedIn ou o Facebook. Ou porque as suas criações foram compradas por gigantes da indústria, como o Instagram.


Para quem não está familiarizado, o WhatsApp é um programa informático que, descarregado para um "smartphone", permite enviar mensagens e fotos através da ligação à Internet, servindo de alternativa aos tradicionais SMS. Resta saber se vale a pipa de massa, equivalente a 14 mil milhões em euros, que o Facebook vai pagar.


Imagine um jogo "on-line" em que tem de juntar grupos de três e quatro guloseimas até passar de nível. Chama-se Candy Crush Saga e pertence à King Digital Entertainment, que a semana passada anunciou que vai dispersar parte do capital na Bolsa de Nova Iorque. A operação avalia a empresa em 5,5 mil milhões de dólares (quatro mil milhões de euros). Tanto como a EDP Renováveis e mais do que os 3,8 mil milhões em que está avaliado o BCP no mercado.


O valor destes negócios traz à memória o livro de Robert Shiller, prémio Nobel da Economia, sobre a formação de bolhas nos preços dos activos. A publicação de "Exuberância irracional", em Março do ano 2000, coincidiu com o princípio do fim da bolha das "dotcom". Estará a história a repetir-se?


Uma das formas de perceber se a irracionalidade tomou conta dos investidores são os chamados múltiplos. Por exemplo, analisar quantas vezes estão a pagar pelas receitas ou os lucros anuais. Descarregar o WhatsApp é gratuito, mas a partir do primeiro ano é preciso pagar anualmente 1,00 dólar (ou 0,89 euros). A receita potencial é de 450 milhões de dólares, tendo em conta o número actual de utilizadores. Com o número a engordar em um milhão todos os meses, o Facebook acredita que será fácil chegar aos mil milhões. Partindo deste número, significa que a rede social de Mark Zuckerberg pagou 19 vezes as vendas. É muitíssimo, tendo em conta que o rácio nas acções americanas (índice S&P500) é de 1,67 vezes.


O número é bem menos exuberante na King Digital. A avaliação de 5,5 mil milhões são 2,9 vezes as vendas de 2013. E o rácio face aos 568 milhões de lucros conseguidos em 2013 (9,7 vezes) é inferior à média de 17 vezes do mercado.


Os rácios do Facebook (55,3 vezes os lucros previstos para este ano) ou do LinkedIn (119,5 vezes) acabam por ser bem mais reveladores de que se ultrapassaram linhas vermelhas. A bolha continuará a insuflar, enquanto houver um tolo maior na disposição de comprar. Um dia, chegará o ajustamento, forçado. O teste ditará quais as empresas que tinham um modelo de negócio sólido e as que foram construídas em cima de ilusões. O segredo está na tarefa, difícil, de acertar nas primeiras. Imagine que tinha investido 1.000 dólares na Amazon.com quando foi para a bolsa em 1997. Hoje tinha perto de 231.450 dólares.

 

 

averissimo@negocios.pt

 

 

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