Opinião
Bancos na sombra
Entre os vários motivos na origem da aversão ao risco que se apoderou dos investidores está o receio sobre o sistema financeiro informal na China.
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Entre os vários motivos na origem da aversão ao risco que se apoderou dos investidores está o receio sobre o sistema financeiro informal na China. O caso desvendado no primeiro dia em que os emergentes afundaram mostra como na "banca sombra" pode estar a semente de uma futura crise financeira.
16 de Janeiro. Foi o primeiro dia de forte queda das moedas e bolsas de alguns países emergentes. Uma das notícias que dominaram a atenção dos mercados logo pela manhã dava conta de que o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) não iria indemnizar os clientes pelas perdas sofridas num produto estruturado de crédito emitido pelo China Credit Trust, que ajudara a vender.
O produto, de nome "Credit Equals Gold #1 Collective Trust Product", foi vendido a chineses ricos em 2010, segundo narra a "Reuters". Mal sabiam os clientes que o seu dinheiro iria ser usado pelo China Credit Trust para emprestar à Shanxi Zhenfu Energy Group, uma empresa de exploração de carvão entretanto falida.
Descobriu-se que além dos 3.000 milhões yuans (366,8 milhões de euros) financiados pela China Credit Trust, a empresa tinha mais 2.900 milhões em empréstimos "subterrâneos". O vice-presidente foi preso por aceitar depósitos sem licença bancária.
O caso reúne elementos comuns de um sistema de crédito que se movimenta e cresce na sombra: veículos de investimento sem regulação, financiamentos não reconhecidos no balanço dos bancos, empréstimos informais. As estimativas apontam para que a "banca sombra" na China tenha atingido os 4,8 biliões de dólares no final de 2012, o equivalente a 55% do PIB. E não pára de crescer. Taxas de remuneração dos depósitos muito abaixo da inflação continuam a empurrar os chineses para produtos de crédito com juros mais altos.
De um momento para o outro, a confiança dos investidores neste tipo de produtos ficou suspensa da decisão do ICBC e da China Credit Trust. Sendo o problema mais sério para os bancos que para os clientes, estes foram ressarcidos.
Além da potencial bomba-relógio que expõe, o caso provocou preocupação pelo receio de que possa provocar um aperto no crédito, minando o crescimento económico, que tem dado sinais de abrandamento mais pronunciado. Para os responsáveis políticos dos países emergentes, a "banca sombra" coloca um dilema, já que uma intervenção demasiado musculada para pôr cobro ao financiamento paralelo ameaça a economia.
Ainda que os países emergentes registem as taxas de crescimento mais elevadas do fenómeno - a China lidera com 42% - é nos países desenvolvidos que ele tem maior expressão. É nestes que está a maior fatia dos 71 biliões de dólares de activos na sombra, estimados pelo Fórum de Estabilidade Financeira em 2013. Veículos de investimento imobiliário (Real Estate Investment Trusts) e fundos como os "hedge funds" são os segmentos de maior crescimento.
Cabe aos reguladores trazerem estas actividades para a luz da supervisão. Haja vontade política e determinação para afrontar os "lobbys" do sector financeiro.
averissimo@negocios.pt