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09 de Agosto de 2013 às 18:26

Japão em acção

Os prolongados "anni horribiles" políticos do Japão – que englobam mais de meia década – terminaram. O Partido Liberal Democrata (PLD) obteve uma vitória decisiva nas eleições para a câmara alta do parlamento, realizadas a 21 de Julho, pondo fim às políticas indecisas originadas pela falta de uma maioria eficaz.

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Durante os seis anos anteriores, houve seis primeiros-ministros, dez ministros da Defesa e 14 ministros da Justiça [dez dos quais ocuparam o cargo durante os 39 meses de governo do Partido Democrático do Japão (PDJ)]. Estes números indicam o quão instável se tornou a situação política do país.

 

Mas a ansiedade em torno do imaturo governo do PDJ, a prolongada deflação e os desafios sem precedentes impostos pelos países vizinhos criaram um sentimento generalizado de crise entre os eleitores japoneses. Foram estes factores que motivaram o regresso do PLD ao poder, embora, apenas há poucos anos, muitos eleitores aparentassem estar cansados do partido.

 

Na recente campanha eleitoral, o PLD continuou a criticar a imaturidade do anterior governo, liderado pelo PDJ, mas evitou criticar outros partidos. Em vez disso, o PLD destacou os efeitos benéficos das reformas implementadas pelo primeiro-ministro Shinzo Abe (conhecidas como “Abenomics”), nomeadamente o aumento do preço das acções, um crescimento mais rápido do PIB e mais emprego, medidas que criaram a esperança de uma reviravolta nas perspectivas do Japão.

 

Desde que Abe regressou, em Dezembro, para um segundo mandato como primeiro-ministro, os eleitores japoneses confiaram-lhe a tarefa de manter a estabilidade política e garantir a revitalização económica. Mas, depois da flexibilização monetária e da expansão orçamental, é a terceira “seta” da “Abenomics” que se irá revelar mais importante – e, politicamente, a mais difícil. O governo de Abe deve implementar a desregulamentação e outras reformas estruturais, ao mesmo tempo que terá de convencer os poderosos grupos de interesse a adaptarem-se a um novo ambiente nacional e internacional, em que o velho modelo económico do Japão já não funciona.

 

Felizmente, Abe não necessitará de se preocupar com eleições nos próximos três anos. Com uma forte maioria em ambas as câmaras parlamentares, Abe deverá ser capaz de garantir qualquer reforma legislativa que necessite - ou seja, desde que mantenha a disciplina interna no PLD (e a sua enorme popularidade vai ajudá-lo).

 

O programa de Abe inclui a reforma da segurança social, em resposta às tendências demográficas, bem como conseguir que o sector agrícola aceite o Acordo Estratégico Trans-Pacífico de Associação, o acordo comercial regional que irá unir os Estados Unidos, Japão, Austrália, Nova Zelândia e grande parte da Ásia, com excepção da China. As normas impostas por este acordo obrigam a importantes reformas agrícolas e o processo para conseguir implementar tais reformas vai pôr à prova, verdadeiramente, a disciplina do partido.

 

Mas Abe também está a fazer pressão para que ocorram mudanças no sector da investigação e da tecnologia médica, ao abraçar inovações evitadas durante muito tempo, como as células iPS (células estaminais). Abe enfatiza também o desenvolvimento do sector das energias renováveis e de medidas de poupança energética, que se tornaram um objectivo político urgente depois do acidente na central nuclear de Fukushima Daiichi há dois anos. Abe está decidido a fazer progressos em cada uma destas questões fundamentais.

 

Mas a “Abenomics” tem também um corolário estratégico. A diplomacia japonesa perdeu solidez com a instável – e por vezes ingénua – política do governo do PDJ. Assim, Abe tem viajado todos os meses, desde Dezembro passado, num esforço para demonstrar que o Japão voltou a ser um protagonista mundial e está particularmente interessado em desempenhar um papel proeminente na reforma das estruturas de segurança da Ásia, no seguimento da ascensão da China. Na verdade, Abe já visitou 13 países nos últimos seis meses sozinho (uma agenda que o ajudou a esquecer quaisquer lembranças remanescentes do seu primeiro mandato como primeiro-ministro, quando problemas de saúde o forçaram a abandonar o cargo ao fim de apenas um ano).

 

Abe tem insistido particularmente no fortalecimento da aliança do Japão com os Estados Unidos, que se tinha deteriorado em consequência do comportamento irresponsável do governo do PDJ (as relações com a China também se deterioraram). Amplamente, Abe concebe o futuro do Japão como o de um país comercial que assumiu o seu papel legítimo na garantia de uma ordem marítima livre e aberta. Este turbilhão diplomático de Abe visa fortalecer os laços com os países que compartilham este compromisso, bem como outros valores do Japão, incluindo a democracia e os direitos humanos.

 

É claro que, dado o tamanho e o dinamismo da Ásia, há muitas outras questões que necessitam de ser abordadas nos próximos anos, incluindo melhorias na segurança de uma Ásia oriental actualmente instável e uma alteração à Constituição do país, que o PLD já tem pensada há vários anos. Mas a primeira prioridade para o segundo governo de Abe é reavivar a economia japonesa. Esta tarefa já começou e a recente vitória eleitoral irá reforçar a capacidade para Abe a completar.

 

Yuriko Koike, ex-ministra da Defesa do Japão e conselheira de segurança nacional, foi presidente do Partido Liberal Democrata. Actualmente é membro da Dieta Nacional do Japão (parlamento japonês).

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2013.
www.project-syndicate.org

Tradução: Inês Balreira

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