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22 de Fevereiro de 2016 às 20:30

A nova líder equilibrista de Taiwan

Mesmo com muito do eleitorado mundial – e de forma mais notória nos Estados Unidos – a inclinar-se em direcção aos extremos, os eleitores em Taiwan contrariaram esta tendência e escolheram o caminho intermédio.

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A eleição, a 16 de Janeiro, de Tsai Ing-wen, líder do Partido Democrático Progressista, para Presidente de Taiwan, é um sinal de que, não obstante a hesitação que os eleitores de Taiwan mostram relativamente a entrarem num relacionamento mais profundo com a China, o eleitorado quer também evitar uma ruptura no relacionamento que tem com o seu poderoso vizinho e antigo antagonista.

 

Tsai Ing-wen, que vai ser a primeira mulher Presidente de Taiwan, terá apoiado no passado a independência de Taiwan, mas evitou expressar sentimentos semelhantes durante a campanha e empenhou-se em manter o status quo. De facto, foi cuidadosa ao distanciar-se do seu mentor, o antigo Presidente Lee Teng-hui, um apoiante declarado de uma ruptura clara com a China.

 

A vitória de Tsai Ing-wen sobre [o partido] Kuomintang, considerado como amigo da China, sugere que as relações com a China – que considera Taiwan como uma província separatista que vai acabar por ser recuperada – vão ser consideravelmente mais calculadas. Além disso, como antiga professora de Direito, Tsai vai provavelmente ter grande atenção aos detalhes em qualquer negociação com a China.

 

Ironicamente, o percurso académico de Tsai Ing-wen (estudou na Universidade de Cornell e na London School of Economics) foi provavelmente um dos motivos pelo qual ela perdeu as eleições em 2012 contra o Presidente Ma Ying-jeou – na campanha da altura, Tsai parecia dura e pouco à vontade com as políticas de dar e receber. Mas, nos últimos quatro anos, as suas capacidades de retórica e a sua forma de fazer campanha melhoraram drasticamente – ao ponto de a sua personalidade descontraída e animada ser particularmente popular entre o eleitorado mais jovem.

 

De facto, a maior aliada de Tsai na parte final da campanha foi Chou Tzuyu, uma cantora taiwanesa, com 16 anos, e que pertence à popular banda coreana Twice. Chou Tzuyu ficou debaixo de fogo na China depois de ter aparecido numa fotografia com a bandeira de Taiwan e o seu pedido de desculpas público pelo facto – feito no YouTube – recordou a muitos na ilha o grau até onde a China está disposta a pressionar as pessoas para ficarem caladas. Muitos em Taiwan acreditam que isso minou o apoio a Ma Ying-jeou, que tem estado a trabalhar para impulsionar laços de maior proximidade com a China. Ao falhar na defesa de Chou Tzuyu, o [partido] Kuomintang alienou muitos membros da geração abaixo dos 30 anos, que se identificam fortemente com Taiwan.

 

A cimeira entre o presidente chinês, Xi Jinping, e Ma, em Singapura, em Novembro, provavelmente teve um efeito mais prejudicial do que que benéfico. Além disso, o anúncio, em Dezembro, de que os Estados Unidos iam vender 1,83 mil milhões de dólares em armas ao Governo de Ma é também uma clara manifestação de apoio a Taiwan, que parece já preparada para renunciar ao Kuomintang. Tal venda no início do mandato de Tsai teria irritado a China e complicado as relações não apenas entre a China e Taiwan mas também entre a China e os Estados Unidos da América.

 

A eleição de Tsai, com 56,1% dos votos, mostra que, apesar de muita da população de Taiwan querer ter boas relações com a China, opõe-se à política de "uma China" repetidamente invocada em Pequim. E, ainda assim, nas suas relações com a China, Tsai vai ter de andar por um caminho estreito. Se Tsai se distanciar, de forma explícita, da ideia de "uma China", vai minar a iniciativa de Xi Jinping intitulada "uma região, um caminho" ["One Belt, One Road"] - a grande visão para ligar a China ao resto da Ásia e Europa e na qual se espera que Taiwan desempenhe o papel de parte integrante. Em vez disso, Tsai vai provavelmente endurecer o status quo, o que não vai agradar a Xi mas não será suficiente para que ele procure enfraquecê-la.

 

A fricção com a China nas áreas económicas provavelmente não pode ser evitada. Mas deve ser feito um esforço para assegurar para Taiwan um mercado que é capaz de partilhar regras comuns. Especificamente, isso exige encontrar os meios para participar na Parceria Trans-Pacífico e trabalhar com outros países no Pacífico para facilitar o comércio.

 

Só dentro de cerca de quatro meses é que Tsai vai tomar posse, por isso a forma como o Governo de Ma se comporta enquanto Governo interino pode ser decisiva – em especial se ele ignorar a repreensão eleitoral e continuar a abrir caminho à China. Dadas as reivindicações chinesas em relação a Taiwan, qualquer sinal de uma séria instabilidade política pode incitar a resposta desproporcional de Xi. Para Taiwan, os próximos quatro meses podem ser ainda mais importantes do que a campanha presidencial.

 

Yuriko Koike, antiga ministra da Defesa e conselheira nacional da Defesa do Japão, foi presidente do conselho geral do Partido Democrático Liberal japonês e é actualmente membro da Câmara Baixa do Parlamento do Japão (Dieta).

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Laranjeiro

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