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27 de Dezembro de 2012 às 00:01

Como vencer no Médio Oriente

Analistas de todo o mundo estão a avaliar a situação no Médio Oriente em 2012, listando os "vencedores" e "perdedores" da região. O Hamas ganhou. O presidente egípcio, Mohamed Morsi, ganhou e depois perdeu. A secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton ganhou. A Síria perdeu. O Iraque perdeu. O Irão registou um empate (sanções mais duras, mas mais perto de uma capacidade de armamento nuclear), bem como a Arábia Saudita (crescente influência, mas incapaz de travar as mortes na Síria ou em Gaza) e Israel (evitou um vasto derramamento de sangue, mas ficou ainda mais isolado).

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No entanto, todas estas listas são meros passatempos dos estrategas políticos. Na sangrenta e opressiva atmosfera hostil do Médio Oriente, ser um "vencedor", em qualquer sentido da palavra, é falacioso. A região continua a produzir apenas perdedores. As vítimas dos conflitos na Síria, Irão e Palestina; os amigos e as famílias das vítimas; aqueles que esperam pela paz: todos eles perderam. Esta é uma lembrança desagradável de que, quando se trata de matar, perdendo repetidamente oportunidades para a paz e falhando todos os esforços de progresso, ninguém consegue superar o Oriente Médio. Em 2012, a região provou mais uma vez que é de facto a melhor a perpetrar o pior.

 

Quando é que todos estes países vitais, ecléticos e prósperos (ou potencialmente prósperos) deixam para trás as suas vorazes lutas internas e começam a alimentar, proteger e apoiar as suas populações? Apesar de ter havido muitas receitas, farei o meu próprio apanhado geral do Médio Oriente em 2012, com um olhar naquilo que tem de acontecer em 2013 se quisermos que haja menos perdas.

 

A máquina assassina israelita tem de ser travada pela determinação dos Estados Unidos, que deverão usar a sua influência para fazerem implementar os princípios das resoluções de paz 242 e 338 do Conselho de Segurança da ONU, bem como os princípios da Conferência de Madrid, do Acordo de Oslo e da Iniciativa de Paz Árabe proposta pelo rei Abdullah. Esta é a única maneira de sair da actual situação, que é impraticável.

 

Recorrendo a um termo da estratégia nuclear, a situação entre Israel e os palestinianos pode ser descrita apenas como "destruição mutuamente assegurada", também adequadamente conhecida como MAD (mutually assured destruction). Não beneficia quem quer que seja, por isso para quê continuar? Só os EUA têm a capacidade de fazer com que os israelitas deixem esta loucura (MAD-ness), por isso estou à espera que em 2013 a Administração de Obama reconheça e actue com base nessa obrigação moral.

A máquina de matar de Assad também deve ser travada. Neste caso, é através do Ocidente, que tem de chegar a acordo com a Arábia Saudita para armar o Exército Livre da Síria com as armas defensivas de que necessita para // os aviões de Bashar al-Assad e imobilizar os seus tanques e artilharia. Ao contrário de alguns conflitos na região, este é um caso com uma solução clara e simples. Aqueles que estão a ser atacados apenas precisam de armas para se defenderem; se as obtiverem, toda a dinâmica do conflito vai mudar, acabando de vez com o derramamento de sangue.

 

Por esta altura, todos os intervenientes na Síria são conhecidos. Não há jihadis, terroristas ou gangsters escondidos. Estão todos bem documentados. Por isso, os moderados são os que devem ter as armas anti-tanques e anti-aéreas. Ao terem-nas, o seu prestígio entre outros combatentes irá disparar, bem como o apoio às suas posições moderadas.

A intervenção iraniana no Iraque tem de parar. Está a desmoronar o Iraque e a colocar em risco os países circundantes. O apoio iraniano e ocidental ao governo de Nouri al-Maliki, que é controlado pela milícia iraniana Basij, tem de ser retirado, para que o povo iraquiano determine livremente o seu próprio destino. Será que os americanos derrotaram Saddam Hussein, e será que mais de 100.000 iraquianos morreram durante esse processo, para que o país se tornasse um fantoche do regime hostil iraniano? A ingerência do Irão no Bahrain, no Koweit, no Iémen e noutros Estados do Golfo tem também de acabar.

 

Além destas importantes tarefas, os principais rivais políticos da Palestina, Hamas e Fatah, têm de se reconciliar e dirigirem os seus esforços conjuntos para a melhoria das vidas do povo palestiniano. O Egipto tem de deixar para trás as disputas pós-revolucionárias e reassumir o seu papel de liderança entre os Estados árabes. E todos os Estados árabes devem coordenar os seus esforços no sentido de concretizarem ambições comuns, em vez de continuarem a perseguir apenas os seus tacanhos interesses nacionais.

 

Um aspecto-chave em todas estas tarefas é que o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) se una numa confederação capaz de lidar com os desafios das ambições regionais do Irão e capaz de avançar com significativos destacamentos militares para lidar com conflitos regionais. Se alguma coisa ficou clara neste último ano foi que Estados como Israel, Irão e Síria agirão com impunidade se ninguém estiver capaz, preparado e disposto a enfrentá-los. É tempo de o CCG, alicerçado no poder da Arábia Saudita, assumir esse papel.

 

O Médio Oriente tem estado a perder há demasiado tempo, porque os seus líderes nacionais têm procurado vencer à sua própria maneira, tendo em vista os seus próprios propósitos, e à custa de todos - menos deles. Esse unilateralismo é impossível no actual mundo globalizado. Temos de nos unir, ou daremos cabo uns dos outros. A escola é simples: queremos ser vencedores ou perdedores?

 

O príncipe saudita Turki bin Faisal al-Saud, presidente do Centro King Faisal de Investigação e Estudos Islâmicos, foi, entre 1977 e 2001, director-geral da Al Mukhabarat Al A'amah, agência secreta da Arábia Saudita. Foi, também, embaixador saudita no Reino Unido e nos EUA. 

 

Tradução: Carla Pedro

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