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20 de Julho de 2009 às 11:57

Uma luta entre a Vivo e a morte

A PT pode andar a olhar para a fibra da Zon numa guerra caseira para ver quem a tem maior, mas a óptica do seu futuro está fora. A Vivo está neste momento em jogo, numa esfera alta de influência entre Portugal, Brasil, Itália e Espanha. Pode ser desta.

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A PT pode andar a olhar para a fibra da Zon numa guerra caseira para ver quem a tem maior, mas a óptica do seu futuro está fora. A Vivo está neste momento em jogo, numa esfera alta de influência entre Portugal, Brasil, Itália e Espanha. Pode ser desta.

Pode ser desta porque a Telefónica e a Telecom Italia estão a negociar uma partilha do seu Globo, que tem no Brasil um epicentro de interesses. A PT é apenas uma pedra no meio do caminho. Há anos que a Vivo fala portiñol, empatada entre queridos inimigos que querem a parte do outro mas não vendem a sua. Chegou a hora de tentar pela força; a força da influência num jogo de poder multinacional. Assim se percebe o interesse de Zeinal visitar Lula.

Fica por perceber o interesse de Lula em ser visitado por Zeinal.

Os espanhóis estão muito mais habituados a estas alianças de ocasião. Chegamos aliás a Julho de 2009 depois de uma rota de negócios desfeitos desde 2005 em França, Alemanha, Itália e Espanha, numa linda história de proteccionismos estatais que fariam Monet e Schuman perder as forças.

Espanha quis um "campeão" na energia e quis fundir a Gas Natural e a Endesa. A alemã E.ON contra-atacou e lançou uma OPA à Endesa, um desaforo para os espanhóis, que pediram ajuda aos italianos da Enel, que por sua vez tentavam comprar a francesa Suez, o que o Governo gaulês neutralizou com uma fusão entre a Suez e Gaz de France. A Enel aceitou o namoro espanhol, juntou-se à Acciona e ambos conseguiram comprar a Endesa. O casamento de conveniência foi mais lato: a Abertis entrou pela Autostrade e… a Telefónica tornou-se a maior accionista da Telecom Italia. Tudo isto foi considerado ilegal pelo Comissão Europeia, tão jactante quanto inconsequente nas suas acusações. Terá havido um acordo entre Zapatero e Prodi mas estes, abrenúncio!, juram que nem mexeram uma palha. Uma vergonha para uma Europa que de União tem pouco. Mas também um ensinamento aos ingénuos: para estes senhores, a "economia de mercado" é como papas e bolos para enganar os tolos.

Os planos estragaram-se com a saída de Prodi e entrada de Berlusconi. Roeu-se a corda. A Telefónica não se funde com a Telecom Itália, o que anula as sinergias sonhadas, e o que vai é somando prejuízos com as acções italianas em queda acentuada. O que fazer? A saga continua: cimeira secreta entre os presidentes das empresas para fazer uma parceria industrial. E que possa incluir… a Portugal Telecom.

Não obrigado, diz a PT, que seria engolida num ápice. O interesse da Telefónica na PT não está em Lisboa, está em São Paulo, na Vivo, a gigante de telecomunicações móveis controlada a meias, num acordo que veio mostrar que meias só para os pés.

Para os portugueses, a Vivo é muito mais do que uma sinergia, é o patamar de crescimento de quem já lá tem metade das receitas e quer chegar aos cem milhões de clientes. A Vivo custou uma fortuna à PT, num leilão cujo preço foi agravado por variações cambiais, mas se fosse para vender, a PT tê-lo-ia feito na OPA, em vez da Multimédia. Agora, é altura da PT fazer tudo o que está ao seu alcance, incluindo visitar Lula, integrar administradores brasileiros e beneficiar do reforço do Bradesco no BES, o seu accionista que mais manda. Paradoxalmente, o melhor que a PT tem agora a fazer é quase nada: esperar pelo desgaste das negociações da Telefónica; esperar que as autoridades brasileiras não queiram tamanha concentração de poder.

As hipóteses de ficar com a Vivo sempre foram pequenas, mas sempre resistiram. É isso que está em causa: sem Brasil, a PT fica um pequeno jardim à beira-mar plantado. Até a "socialite" Lili Caneças sabe: estar Vivo é o contrário de estar morto.
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