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06 de Março de 2007 às 13:59

Um virar de página na moda nacional

Com o encerramento da 20ª edição do Portugal Fashion, na última segunda-feira, 5 de Março, cumpriu-se a primeira etapa da Semana da Moda portuguesa, evento umbrella que congrega os principais certames promovidos pelas associações da fileira moda: ANJE, AT

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Trata-se, portanto, de um esforço conjunto de várias entidades privadas, algo raro em Portugal e que, desde logo, merece aplauso.

Num país em que existe a tendência para as instituições se fecharem nas suas "torres de marfim" e blindarem os respectivos feudos corporativos contra ingerências externas, é reconfortante verificar que, no âmbito da fileira moda, um grupo de associações logrou chegar a um consenso e a uma partilha de competências. Neste ponto, importa realçar a intervenção conciliadora do Icep Portugal, organismo que apoia a Semana da Moda desde a primeira hora.

Graças ao pragmatismo das associações envolvidas conseguiu-se calendarizar, num período que vai de 2 a 11 de Março, quatro grandes eventos de moda - Portugal Fashion, Brand Up, Modtíssimo e Moda Lisboa -, o que irá permitir maximizar a visibilidade dos nossos criadores e marcas de vestuário, calçado, acessórios e restantes produtos da indústria têxtil nos mercados nacional e internacional. A existência de um calendário oficial da moda portuguesa, à semelhança do que acontece no circuito internacional, possibilita o desenvolvimento de estratégias comuns de comunicação e promoção, escoradas numa imagem institucional única. 

Por conseguinte, a também designada Fashion Week 2 Porto + Lisboa constitui o eixo nuclear da estratégia promocional da fileira moda. Mas se os ganhos de sinergia entre as entidades envolvidas não o exigirem, deverá evitar-se a perda de identidade de cada evento e a subalternização de uns eventos em relação aos outros. Neste sentido, a plataforma comum construída sob a chancela da Semana da Moda tem a obrigação de reforçar a mundividência, objectivos e valores de cada evento, para que o todo seja superior à soma das partes. Se assim não for, pouco sentido fará prosseguir com o projecto?

Há que reconhecer que, nesta edição inaugural do evento, houve a preocupação de abarcar diferentes vertentes da moda. Por isso, estão previstos, não só desfiles de criadores com as suas propostas de autor, mas também desfiles da indústria de vestuário em parceria com "designers" de moda, de marcas de calçado e ainda de jovens "designers" em fase de descoberta ou afirmação. Por outro lado, a componente "passerelle" é complementada por um "showroom" comercial e um salão dedicado a tecidos, vestuário técnico e têxteis inovadores.

A meu ver, a fileira moda só será economicamente pujante se a relação entre indústria e criadores for consolidada, como tem sido, aliás, a estratégia do projecto Portugal Fashion. Deve apostar-se, por um lado, em marcas de vestuário e de calçado em que o "design" é entendido como um factor de competitividade e, por outro, em "designers" de moda que, sem embargo da respectiva liberdade criativa, assumam igualmente no seu trabalho uma perspectiva comercial e de "marketing". Neste quadro, os desfiles em "passerelle" merecem continuar ser reforçados por "showrooms", onde criadores e marcas podem explorar a vertente puramente promocional e comercial das suas actividades.

Para os sectores do têxtil e do calçado portugueses é vital aliar a sua inequívoca qualidade de produção a uma maior criatividade no capítulo do "design" de produtos, o que pressupõe, precisamente, um relacionamento mais escorreito entre indústria e criadores. Mas para que esta estratégia resulte em pleno é indispensável, a jusante, promover, tanto nacional como internacionalmente, a criatividade gerada pelas sinergias indústria/criadores em eventos especialmente vocacionados para o efeito.

E aqui entra a Semana da Moda, enquanto potencial emblema de uma fileira que, paulatinamente, se está a modernizar e que, por isso, pode expor sem constrangimentos as suas virtualidades perante agentes de compras internacionais e imprensa especializada.

Esperemos, então, que a Fashion Week 2 Porto + Lisboa cumpra o que dela se espera e constitua, de facto, um virar de página na moda nacional, pois o "glamour" dos desfiles não deve ofuscar os problemas de competitividade que a fileira atravessa e que provocam, em alguns casos, dramas sociais como o desemprego no Vale do Ave.

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