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Um feliz 2012

(1) O ano de 2011 chega ao fim dentro de dois dias. Dizia-se que ia ser um ano difícil e traumático, mas a senda do crescimento e da felicidade já estava ao nosso alcance.

(1) O ano de 2011 chega ao fim dentro de dois dias. Dizia-se que ia ser um ano difícil e traumático, mas a senda do crescimento e da felicidade já estava ao nosso alcance. Emagrecer um pouco e o regabofe voltaria depois da dieta forçada pelos especuladores e pelos alemães. Temos um Governo diferente, Sócrates fugiu para Paris e temos Passos Coelho, mas o discurso para 2012 é, na substância, certamente o mesmo. Infelizmente, sabemos que o ano de 2012 será seguramente muito complicado para muitos portugueses. Mas não menos do que 2013 ou 2014. A austeridade e o empobrecimento parecem ainda umas palavras longínquas para a grande maioria dos portugueses da classe média, mas vão ser uma realidade em breve. E dela Portugal não vai sair tão cedo, por mais que as elites políticas falem de bem-aventuranças a breve trecho.

(2) Vai ganhando eco na comunicação social a ideia de que há um rumo alternativo ao estabelecido pelo Governo PSD-CDS e pela troika. Não pagamos. Os bancos alemães vão tremer de medo. A senhora Merkel vai perceber a fibra do génio português (socialista, diga-se, pois a direita portuguesa, coitada, é um caniche da senhora Merkel). E basta olhar para a balança de pagamentos e para o défice alimentar para perceber que a imediata consequência de anunciar "não pagamos" será um sério problema de abastecimento e uma falta de liquidez na economia portuguesa. Leio que este é o discurso da nova esquerda. Boa sorte. Primeiro, endividaram a economia portuguesa de forma irresponsável em nome de um mítico Estado social. Agora, supostamente, não pagamos.

Renegociar a dívida? Claro que sim. Vai acontecer. Uma inevitabilidade. Mas como não temos qualquer soberania política, a qual foi cedida alegremente nos últimos trinta anos pelos partidos políticos que representam a maioria dos portugueses (principalmente o PS, que agora supostamente procura um novo e moderno discurso de "não pagamos"), vamos renegociar a dívida quando a senhora Merkel e a União Europeia decidirem. Nas condições e nos termos que quem manda quiser. Muitos acham que deveria ser diferente, andam chocados com o que nos aconteceu, mas não os ouvi abrir a boca nos últimos dez anos, bem pelo contrário.

(3) Seis meses de Governo PSD-CDS. Faz o que pode. Patina por todos os lados. Uma desilusão em muitas pastas (mas não em todas). Como bem alertou a União Europeia na semana passada, já está totalmente condicionado pelos grupos de pressão e os interesses corporativos que vivem à sombra do Estado. As reformas são adiadas. Muito faz-de-conta para ir cumprindo formalmente o memorando da troika sem esbarrar demasiado nos lóbis. O ano de 2012 vai também nisso ser difícil para o Governo.

(4) Privatizar com uma data no papel evidentemente que é um absoluto disparate negocial, um caminho certo para atirar o pouco que resta do Estado português para o valor lixo. Mas tanto o PS como o PSD-CDS comprometeram-se a isso. Sem que o Presidente da República ou os ilustres senadores da Pátria dissessem uma palavra pública sobre o assunto em Maio último. Agora é que descobriram que é um problema. Haja pachorra para tanta falta de honestidade intelectual.

(5) Novo governo espanhol. Muito cabelo branco. Muita experiência quer política, quer de governo. Nomes sólidos da direita espanhola. O presidente do Governo chama a si a coordenação da política económica e financeira. Não há surpresas, nem independentes, nem experiências, nem ambiguidades. A situação não está para brincadeiras. Certamente uma mostra de responsabilidade e maturidade por parte de Rajoy. Bem ao contrário do que aconteceu em Junho de 2011 em Portugal. Com os resultados que já vemos.

(6) Chegam ao fim quase quatro anos desta coluna quinzenal. Por motivos profissionais, a minha colaboração com este jornal (que é sem dúvida nenhuma um actor fundamental da informação em Portugal) será agora mensal.



Professor de Direito da University of Illinois
nuno.garoupa@gmail.com
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