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Opinião
11 de Janeiro de 2008 às 13:59

Um ano de novas realidades

O ano que findou há pouco tem sido apresentado frequentemente como o prenúncio de grave crise financeira que poderá descambar num arrefecimento da economia mundial. Sendo certo que o ambiente macroeconómico passou a ser menos favorável haverá que colocar

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De facto, e apesar dessa crise, as previsões continuam a apostar em taxas de crescimento mundiais acima de 4% e na manutenção da tendência de crescente abertura dos espaços económicos à economia de mercado.

Mas o que é verdade é que se verificaram alterações qualitativas à escala global que irão afectar as tendências nos mercados financeiros dos próximos anos.

O “decoupling” das economias

O fenómeno mais marcante foi, sem dúvida, o associado ao facto de, pela primeira vez, as economias em desenvolvimento e emergentes não terem sido afectadas pela crise financeira dos mercados desenvolvidos.

As economias emergentes,  particularmente China Índia, Rússia, Brasil e outras economias asiáticas, ao terem acumulado elevados excedentes resultantes do crescimento das exportações associadas quer a mercadorias em crescente procura mundial quer a produtos transformados, não só reagiram positivamente à crise dos mercados financeiros como, em vários casos, foram em resgate de instituições financeiras afectadas pela crise do crédito hipotecário.

Esta nova situação permite encarar com algum optimismo a evolução da economia mundial nos próximos tempos e coloca novas questões sobre a liderança futura da economia mundial.

É cada vez mais evidente que a designação de economias emergentes para aqueles países não faz sentido. Pelo contrário, na escala global da competitividade, os países ocidentais defrontam-se, por um lado, com novas oportunidades de crescimento em novas mercados e novas economias, e, por outro, com novos concorrentes que, cada vez mais, competem em todas os segmentos da cadeia de valor e não apenas ao nível da mão-de-obra barata.

Se a tudo isto acrescentarmos a crescente disputa por fontes de abastecimento de matérias-primas e recursos naturais, torna-se evidente que os paradigmas tradicionais com que se olha para as relações de comércio e de poder na economia global são, cada vez, menos apropriados para analisar a realidade.

As políticas da União Europeia que vão aumentando, sem  equilíbrio nem bom senso, a carga burocrática e as exigências de natureza ambiental e regulamentar impostas às empresas europeias pode vir a provocar enormes perdas de competitividade e crescentes deslocalizações da indústria para outras zonas do Planeta.

A reavaliação do risco financeiro

Chegou ao fim a época do dinheiro fácil. Alimentado pelos elevados níveis de liquidez gerados nos países exportadores de recursos naturais e na Índia e na China, o sistema financeiro mundial sofisticou-se como nunca anteriormente se havia verificado.

De acordo com um estudo do Mckinsey Global Institute, os activos conjuntos dos bancos centrais asiáticos, dos países exportadores de petróleo, dos “hedge funds” e dos “private equities” passaram de 3,2 biliões de US$ em 2000 para 9,1 biliões US$ em 2006, representando mais de 5% dos activos financeiros totais (cerca de 167 biliões US$).

Este fenómeno teve dois efeitos: uma muito maior dispersão do risco – o que tem permitido absorver a actual crise financeira sem rupturas do sistema – e a existência de condições para o financiamento de operações de maior risco e de maior dimensão.

Sendo uma tendência globalmente benéfica, criaram-se situações de exagero agravadas pelas operações de financiamento fora do balanço dos bancos (utilizando os SIV’s) que, com a crise do crédito hipotecário, conduziram a uma reavaliação generalizada do risco financeiro que desembocou numa crise de confiança do sistema financeiro.

Iremos, por isso assistir, a condições menos favoráveis para o financiamento da actividade económica, o que já está a conduzir a uma revisão em baixa das perspectivas de crescimento nas economias desenvolvidas.

Até agora temos verificado um saudável processo de reajustamento, sem sobressaltos radicais ou rupturas do sistema. Estou em crer que a dimensão global do sistema financeiro e as condições que já referi vão permitir a continuação desse processo sem rupturas. Mas  o tempo do “easy money” acabou.

O aumento do preço dos produtos alimentares

O efeito combinado da crescente procura mundial com a subsidiação irresponsável dos biocombustíveis, está a provocar uma espiral de subida de preços dos produtos alimentares que pode vir a gerar pressões inflacionistas altamente perniciosas para as economias, com consequências a nível social que podem fazer perigar o equilíbrio das sociedades.

Torna-se indispensável não só uma revisão das políticas de subsidiação dos biocombustíveis como a abertura do comercio mundial de bens agrícolas, eliminando os mecanismos proteccionistas ainda em vigor na União Europeia e nos Estados Unidos.

Estas são algumas breves reflexões sobre tendências que irão marcar de forma determinante o ano de 2008. Um ano de maiores incertezas sobre o comportamento dos mercados e das economias, mas em que, apesar das dificuldades, será de prever a continuação do processo de globalização das economias e de taxas de crescimento muito favoráveis.

1ª tendência: “decoupling” das economias;
2ª tendência: reavaliação do risco financeiro;
3ª tendência: aumento de preços dos produtos alimentares;
4ª tendência: fim do unanimismo sobre o aquecimento global.

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