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19 de Novembro de 2007 às 13:59

Europa: a necessidade de uma cultura do empreendedorismo!

O prémio Nobel da Economia Edmund Phelps, num artigo publicado no The Wall Street Journal de 12 de Fevereiro de 2007, efectuou uma análise corrosiva das causas do atraso de crescimento da Europa em relação aos EUA e do crescente fosso de produtividade ent

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Afirma Phelps que a causa última do que se passa tem a ver com o modelo económico adoptado e este resulta, em última instância, do tipo de cultura prevalecente num pais: “... A nations’s culture ultimately makes a difference for the nation’s economic performance in all its aspects – productivity, prosperity and personal growth.”

A questão que se coloca é saber se a cultura dominante privilegia o dinamismo associado ao crescimento e à mudança ou se, pelo contrário, alimenta o conservadorismo e protege as instituições dominantes.

Phelps conclui que, na Europa Continental, o que prevalece é a cultura de protecção aos interesses instalados em que a pretexto da defesa dos interesses “sociais” se bloqueia a livre iniciativa  e onde se dá mais importância aos chamados princípios do “igualitarismo” e do interesse social em detrimento da responsabilidade individual  e da valorização pessoal.

Phelps diz que a corrente intelectual dominante no continente – “solidarism, consensualism, anti-comercialism e conformism” – emergiu no século XIX como reacção aos princípios do livre câmbio e ao desenvolvimento do capitalismo.

A escala de valores no continente europeu e do outro lado do Atlântico é, no que respeita aos princípios da empreendedorismo e da responsabilidade individual, bem díspar. Phelps cita um estudo da Universidade de Michigan sobre a escala e valores no local de trabalho para distintos países podendo concluir-se claramente que nos EUA e Canadá a realização profissional e o “challenge” das oportunidades são muito mais importantes.

Ou seja, a Europa tem, em primeiro lugar, um problema de cultura que não se adaptou às novas realidades. A Europa precisa que a cultura do empreendedorismo e da livre iniciativa passem a ser dominantes e que se combata tudo o que cheire a resistência à mudança e a protecção dos interesses instalados. Isso significa, de facto, pôr em causa muito do que resta ainda do intervencionismo estatal – seja por via de “golden shares”, seja por via do domínio de sectores económicos –, aumentando as iniciativas que conduzam a mais liberdade em todas as dimensões.

Infelizmente, a tendência dominante tem sido a de um crescente peso das estruturas burocráticas que pretendem regular cada vez mais a vida dos cidadãos e das empresas, coarctando o espírito criativo e a transformação que a era da sociedade da informação impõe.

As consequências dessa pulsão controladora são o atraso cada vez maior da Europa em relação ao resto do Mundo. Já várias vezes afirmei que os nossos dirigentes europeus andam distraídos a discutir o acessório e a produzir acções de cosmética, fugindo à dura dos realidade os factos e à urgência de serem tomadas medidas corajosas que, efectivamente, imponham uma cultura do empreendedorismo, capaz de responder aos desafios deste século.

Um estudo recente do Deustche Bank a que tive acesso evidencia o “gap” estrutural de produtividade entre a Zona Euro e os EUA. Esse “gap” é particularmente notório em todas as áreas em que a mobilidade e a flexibilidade são fundamentais para aproveitar a revolução tecnológica iniciada nos anos 60. Falo dos sectores da electrónica e telecomunicações e de todas as áreas de serviços.

Aquele estudo reproduz as conclusões de um  relatório subsidiado pela Comissão Europeia e que a analisa os factores que determinam níveis substancialmente diferentes de crescimento da produtividade entre 1995 e 2004 (ver Quadros II e III).

O diagnóstico de Phelps não poderiam ter melhor prova estatística. O aproveitamento das novas tecnologias na Europa fica substancialmente aquém dos EUA. A revolução tecnologia cria novas oportunidades mas obriga a que a sociedade de adapte: é preciso mais criatividade, mais espírito de iniciativa, mais mobilidade da mão de obra, mercados de capitais mais sofisticados dispostos a tomar maiores riscos, etc.

Na altura em que toda a discussão europeia se concentra na questão do novo Tratado, talvez valesse a pena lançar também o movimento para a criação de uma nova  cultura dominante no espaço europeu: a cultura da responsabilidade individual, da promoção do empreendedorismo e da livre iniciativa.

Doutra forma ficaremos com excelentes invólucros que fazem os “headlines” dos telejornais mas, mais tarde ou mais cedo, seremos confrontados com a dura realidade que os números não cessam de mostrar.

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