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30 de Julho de 2017 às 19:10

Um país em combustão

Eu por mim, ainda de férias, ocupo-me com a visão de Elon Musk. Para a semana volto ao país dos indignados, aquele que vive em combustão interna permanente até um dia ser varrido pelo avançar da história.

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Há dias vi uma conferência de Elon Musk, o inventor da Tesla, o Galileu Galilei dos tempos modernos. Nesse debate ele respondia às perguntas dos governadores dos estados americanos sobre a revolução energética e a inteligência artificial, dois movimentos em curso que já estão a mudar radicalmente o nosso modo de vida sob todos os pontos de vista.

Os governadores estavam preocupados. As duas revoluções têm impactos sociais e económicos, mudam as dinâmicas, geram possibilidades, custam pobreza e desencadeiam oportunidades de bem-estar às suas comunidades, algumas presentes e outras futuras, todas elas com impactos planetários, mas também férteis em consequências locais, daí a vontade de os governadores saberem um pouco mais destes assuntos para se adaptarem.

Por exemplo: fechar uma mina de carvão ou definir-lhe um prazo de validade mais próximo, dar incentivos a uma fábrica de baterias para armazenar energia solar ou optar por um parque eólico, apoiar esta e não outra investigação nos laboratórios universitários, preparar regulação para delimitar a inteligência artificial - primeiro para aprender, só depois estabelecer regras -, subsidiar a reconversão de empregos, negócios e indústrias com os dias contados para facilitar a transição; mas também aproveitar os mecanismos públicos para orientar (sinalizar ou mais do que isso) o desenvolvimento e compensar e proteger os que ficam para trás.

A todas as perguntas Musk respondeu com números, factos e hipóteses bem sustentadas e ilustradas, às vezes de forma perturbante. O vídeo está no YouTube, vê-lo é aprender qualquer coisa sobre este mundo que já existe e não perderá velocidade: dentro de 10 anos, talvez menos, não serão mais vendidos carros com motor de combustão interna e todos eles serão auto-guiados. E isto é realmente o básico. O poder da inteligência artificial define-se pela capacidade de aprender sozinha. Evoluir. Um robô dá os primeiros passos e depressa está a correr. A progressão é avassaladora. Ilimitada. Para a conter e aproveitar bem será preciso antes de mais perceber o fenómeno.

A anos luz desta realidade temos o SIRESP e o lodo em que se converteu o debate nacional neste Verão de todos os incêndios. Nada se discute com o mínimo de profundidade. Nem a morte é respeitada. Há uma arenga partidária permanente, destinada a minar ou capturar o poder. Uma grande parte do jornalismo nacional especializou-se nisto: é uma indústria para cidadãos de terceira. Eu por mim, ainda de férias, ocupo-me com a visão de Elon Musk. Para a semana volto ao país dos indignados, aquele que vive em combustão interna permanente até um dia ser varrido pelo avançar da história.

Este artigo está em conformidade com o novo acordo ortográfico
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