Opinião
Um bom ano para a economia portuguesa
A economia portuguesa fez um percurso notável este ano, mas há ainda muitos desafios pela frente. A perseverança é o segredo do êxito.
A diferença que um ano faz! Há apenas um ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimava que a economia portuguesa cresceria 1,1% em 2017 – mais ou menos em linha com a maioria das outras projecções. Prevemos agora um crescimento de 2,6% este ano, ditado por um ressurgimento do investimento e por vigorosas exportações, e de 2,2% em 2018. Importa também referir que o crescimento económico promoveu a criação de emprego, ajudando o desemprego a cair para os 8,5% no terceiro trimestre deste ano. Além disso, a dívida soberana regressou à categoria de investimento de qualidade por parte de duas grandes agências de "rating" e os juros da dívida a 10 anos caíram para um patamar inferior a 1,8% em finais de Dezembro contra mais de 4% em inícios de 2017. E algumas das principais incertezas que pairavam sobre o sistema bancário em finais de 2016 foram significativamente dissipadas, como o caso da venda do Novo Banco a um investidor estrangeiro e o aumento de capital do BCP.
Estes desenvolvimentos positivos reflectem, em grande medida, importantes esforços levados a cabo por muitos actores no palco português. A título de exemplo, as famílias e empresas não-financeiras reduziram grandemente o seu endividamento agregado, de cerca de 270% do PIB no seu auge de 2013 para menos de 220% actualmente. E o governo português tem desempenhado um papel especialmente importante na promoção de melhores perspectivas, ao respaldar um vigoroso esforço orçamental que teve início aquando do cumprimento do programa do FMI.
À medida que a economia foi ganhando força, as receitas recuperaram e os pedidos de subsídio de desemprego diminuíram, o que contribuiu para reduzir o défice. Mas isto não teria bastado sem a gestão conscienciosa da despesa pública por parte do Governo. Esta combinação trouxe a margem necessária para se poder lidar com algumas operações extraordinárias que surgiram pelo caminho (como as recapitalizações do Banif e da Caixa Geral de Depósitos). Resultado: o défice orçamental tem estado a diminuir, o que permitiu a Portugal sair do Procedimento por Défices Excessivos da Comissão Europeia e o pôs em vias de terminar o ano de 2017 abaixo de 1,4% do PIB, com o FMI a estimar que o rácio da dívida pública desça em quatro pontos percentuais do PIB para cerca de 126% do Produto Interno Bruto este ano.
Além disso, Portugal beneficiou também de um contexto externo favorável em 2017. As baixas taxas de juro na Zona Euro e, em ocasiões importantes, o suporte fornecido pelo Banco Central Europeu com o seu programa de compra de activos, ajudaram a moderar os custos de financiamento do governo. E a sólida recuperação a nível regional está também a beneficiar o país. Em Outubro de 2016, o FMI projectou um crescimento de 1,5% para a Zona Euro e de 2,2% para Espanha em 2017. Um ano depois, estimamos que esse crescimento seja de 2,2% e 3,1%, respectivamente.
Mas por melhor que o ano de 2017 tenha sido, é preciso ainda lidar com importantes legados da crise. A dívida do sector privado não-financeiro é ainda bastante elevada para os padrões europeus e continua a ser uma fonte de vulnerabilidade. As reservas relativamente grandes de crédito malparado que ainda encontramos nos balanços dos bancos condicionam a sua capacidade para concederem novo crédito ao investimento. A dívida pública portuguesa, nos 126% do PIB, é a terceira maior da Zona Euro. Na nossa mais recente edição do Fiscal Monitor, estimámos que o rácio da dívida pública descerá para 114% do PIB em 2022. Apesar de se tratar de uma melhoria notável, este rácio continua a ser demasiado elevado quando comparado com os de outros países com "ratings" na categoria de investimento de qualidade, com as economias do bloco do euro e com os patamares de referência definidos no Tratado de Maastricht; mas, mais importante ainda, continuará a ser demasiado elevado para ser considerado confortável num mundo repleto de incertezas económicas. E Portugal, como alguns outros membros da Zona Euro, estaria mais bem protegido com amortecedores orçamentais mais fortes.
Nos próximos anos, é provável que o contexto económico seja menos benigno. As taxas de juro deverão começar a subir gradualmente em todo o mundo e o BCE deverá acabar por eliminar por completo os estímulos monetários extraordinários dos últimos anos. A actual fase cíclica de expansão irá abrandar, tanto em Portugal como nos seus parceiros comerciais. Apesar de o contexto externo não ser algo que Portugal possa controlar, o país pode definir o ritmo da redução dos seus desequilíbrios e vulnerabilidades através das suas próprias medidas. Para uma maior resiliência do país, será preciso manter as finanças públicas sólidas e amortecedores adequados. Os bancos precisarão de continuar a afinar os seus modelos de negócio e a sanearem gradualmente as suas carteiras de crédito malparado. E alcançar taxas de crescimento económico sustentável mais elevadas do que nas recentes décadas só será possível se o país continuar a apostar em reformas estruturais com o foco no aumento da produtividade.
Em suma, a economia portuguesa fez um percurso notável este ano, mas há ainda muitos desafios pela frente. A perseverança é o segredo do êxito, uma vez que a prossecução do processo de retoma económica e a obtenção de um crescimento sólido e sustentável são empreendimentos que implicarão esforço e tempo. Uma recomendação que fazemos a Portugal é que aproveite o actual momento bastante favorável, fazendo escolhas que sustentem uma aceleração da redução da dívida e um maior avanço das reformas estruturais. E, é claro, é nosso desejo que em 2018 haja mais crescimento, empregos e progresso económico.
Estes desenvolvimentos positivos reflectem, em grande medida, importantes esforços levados a cabo por muitos actores no palco português. A título de exemplo, as famílias e empresas não-financeiras reduziram grandemente o seu endividamento agregado, de cerca de 270% do PIB no seu auge de 2013 para menos de 220% actualmente. E o governo português tem desempenhado um papel especialmente importante na promoção de melhores perspectivas, ao respaldar um vigoroso esforço orçamental que teve início aquando do cumprimento do programa do FMI.
Além disso, Portugal beneficiou também de um contexto externo favorável em 2017. As baixas taxas de juro na Zona Euro e, em ocasiões importantes, o suporte fornecido pelo Banco Central Europeu com o seu programa de compra de activos, ajudaram a moderar os custos de financiamento do governo. E a sólida recuperação a nível regional está também a beneficiar o país. Em Outubro de 2016, o FMI projectou um crescimento de 1,5% para a Zona Euro e de 2,2% para Espanha em 2017. Um ano depois, estimamos que esse crescimento seja de 2,2% e 3,1%, respectivamente.
Mas por melhor que o ano de 2017 tenha sido, é preciso ainda lidar com importantes legados da crise. A dívida do sector privado não-financeiro é ainda bastante elevada para os padrões europeus e continua a ser uma fonte de vulnerabilidade. As reservas relativamente grandes de crédito malparado que ainda encontramos nos balanços dos bancos condicionam a sua capacidade para concederem novo crédito ao investimento. A dívida pública portuguesa, nos 126% do PIB, é a terceira maior da Zona Euro. Na nossa mais recente edição do Fiscal Monitor, estimámos que o rácio da dívida pública descerá para 114% do PIB em 2022. Apesar de se tratar de uma melhoria notável, este rácio continua a ser demasiado elevado quando comparado com os de outros países com "ratings" na categoria de investimento de qualidade, com as economias do bloco do euro e com os patamares de referência definidos no Tratado de Maastricht; mas, mais importante ainda, continuará a ser demasiado elevado para ser considerado confortável num mundo repleto de incertezas económicas. E Portugal, como alguns outros membros da Zona Euro, estaria mais bem protegido com amortecedores orçamentais mais fortes.
Nos próximos anos, é provável que o contexto económico seja menos benigno. As taxas de juro deverão começar a subir gradualmente em todo o mundo e o BCE deverá acabar por eliminar por completo os estímulos monetários extraordinários dos últimos anos. A actual fase cíclica de expansão irá abrandar, tanto em Portugal como nos seus parceiros comerciais. Apesar de o contexto externo não ser algo que Portugal possa controlar, o país pode definir o ritmo da redução dos seus desequilíbrios e vulnerabilidades através das suas próprias medidas. Para uma maior resiliência do país, será preciso manter as finanças públicas sólidas e amortecedores adequados. Os bancos precisarão de continuar a afinar os seus modelos de negócio e a sanearem gradualmente as suas carteiras de crédito malparado. E alcançar taxas de crescimento económico sustentável mais elevadas do que nas recentes décadas só será possível se o país continuar a apostar em reformas estruturais com o foco no aumento da produtividade.
Em suma, a economia portuguesa fez um percurso notável este ano, mas há ainda muitos desafios pela frente. A perseverança é o segredo do êxito, uma vez que a prossecução do processo de retoma económica e a obtenção de um crescimento sólido e sustentável são empreendimentos que implicarão esforço e tempo. Uma recomendação que fazemos a Portugal é que aproveite o actual momento bastante favorável, fazendo escolhas que sustentem uma aceleração da redução da dívida e um maior avanço das reformas estruturais. E, é claro, é nosso desejo que em 2018 haja mais crescimento, empregos e progresso económico.
Alfredo Cuevas é o chefe de missão do FMI para Portugal
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28.12.2017