Opinião
TGV ou Ota, that’s the question
A não realização do aeroporto da Ota apresenta-se como um imperativo estratégico para um desenvolvimento descentralizado, harmonioso e produtivo de Portugal.
Uma taxa de crescimento económica de 2 a 4% não suporta o investimento em projectos antagónicos. Portugal deve agora apenas seleccionar projectos de investimentos úteis e rentáveis, que proporcionam factores multiplicadores e aumentam a produtividade macroeconómica.
Portugal escolheu investir numa rede de comboios de alta velocidade, TGV. O aeroporto da Ota, monstro do Lockness português, ciumento, voltou à superfície no âmbito das estratégias de modernização de Portugal. Ora, os dois projectos são antagónicos... Sobrepõem-se... Competem entre si. Os erros de estratégia em economias de baixo crescimento conduzem ao paradigma argentino. O investimento nos dois projectos pode ser pior do que não fazer nada.
Enquanto o TGV proporciona vários factores produtivos multiplicadores, o projecto do aeroporto da Ota aparece apenas como uma questão de prestígio nacional... ainda menos produtiva do que os estádios de futebol visto que o aeroporto da Portela já existe e não está de maneira alguma em fim de vida.
Os lobbies a favor do aeroporto da Ota têm interesses no atraso da conclusão da rede nacional de TGV e no arranque imediato das obras do aeroporto... É que quando existir esta nova rede de transporte... o monstro do Lockness português afundará profundamente no mar de todas as vergonhas numa hibernação que durará provavelmente muitas décadas... E Portugal respirará de alívio! Talvez...
Quais são os efeitos multiplicadores do TGV ?
1) Encolhe fortemente as distâncias entre as cidades e favorece o desenvolvimento harmonioso e justo do território.
2) Abraça Espanha com três interligações estratégicas Vigo, Cáceres e Huelva.
3) Grande parte do tráfego aéreo espanhol mudará para o comboio de alta velocidade. O tráfego regional de turistas aumentará significativamente. Mais portugueses trabalharão em Espanha com maior conforto.
4) O TGV tem propulsão eléctrica e adequa-se à envolvente de mudança de fonte de energia. Portugal poderá investir em meios de produção próprios, alternativos, para alimentar a rede de nacional de TGV. Uma meta prestigiosa que possibilitaria enfrentar melhor crises energéticas graves.
5) O desenvolvimento do aeroporto de Beja ligado à rede de TGV Sul permitiria aliviar a Portela do transporte de frete aéreo e de «charter». Esta opção implica criar um ramal ferroviário entre Badajoz, Beja e Sines.
6) O TGV é um projecto nacional para todos os Portugueses. A sua realização, quando mais rápida, aumentará certamente a auto estima e orgulho dos cidadãos nacionais.
E a Ota ?
1) Polariza Portugal em redor da região de Lisboa.
2) Não melhora especificamente as trocas com Espanha.
3) Escoará mais tráfego, se houver, mas necessitará o uso do comboio para chegar até Lisboa... Não há certezas quanto ao aumento do tráfego aéreo. A Portela aguentou bem o Euro 2004... Com Beja na rectaguarda, este argumento é contingente.
4) É uma infra-estrutura que opera um meio de transporte com energia fóssil. Ficará às moscas caso haja uma crise energética...
5) Desenvolve apenas o «zoning» industrial entre Ota e Lisboa.
6) Somente Lisboa tira proveito a curto, médio e longo prazo, amplificando assim as assimetrias existentes. Os portugueses ficarão impressionados mas em dúvida : era mesmo preciso ? Para quê ?
A não realização do aeroporto da Ota apresenta-se como um imperativo estratégico para um desenvolvimento descentralizado, harmonioso e produtivo de Portugal.
Advoga-se estender já o desenvolvimento do TGV a todo o território nacional como alternativa ao investimento da Ota. Garantir o aprovisionamento em energias alternativas nacionais desta nova rede de transporte / CP. Desenvolver Beja como nó modal aéreo, rodoviário e ferroviário entre Lisboa, Sines, o Algarve e Espanha. Parece-me mais coerente.