Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
01 de Setembro de 2004 às 13:59

O choque tecnológico diferenciado (conclusão)

A percentagem de energias renováveis no consumo energético, a distribuição das dependências as energias fósseis e nuclear, e o uso racional da energia no consumo e na produção de bens e serviços, determinam um rácio de estabilidade numa envolvente de fort

  • ...

A recessão energética pode ser uma oportunidade. As oscilações do preço do petróleo e daqui a 10 anos, do gás, indicam que o momento é propício para o lançamento de uma iniciativa nacional em redor da energias alternativas, no campo da investigação aplicada e do investimento industrial. Existem estudos que mostram que em 2015, a procura ultrapassará a oferta (isto pode criar guerras...(sic!)). Entretanto, a inflação e a especulação estão a criar um contexto onde o poder político deverá intervir e com uma política coesa de médio longo prazo. A criação de um «cluster» em redor das energias alternativas e de um mercado nacional comprador, é, no meu entender, a forma de transformar a ameaça muito concreta da «recessão energética» em oportunidade de desenvolvimento.

As economias de energias aumentam o PIB. Conexo a este desígnio nacional, o Portugal Solar, (Portugal Iluminado!), as economias de energias constituem um desafio urgente e fornecem uma oportunidade de crescimento do PIB, se houver uma política pró-activa de inflexão do crescimento vertiginoso do consumo energético das famílias. Os consumidores portugueses gastam os seus rendimentos na compra de energia, esquecendo que não se trata de um bem de consumo! Para aumentar o poder dos consumidores, é preciso diminuir a factura petrolífera e de gás ao nível macro e microeconómico. As economias de energias libertam rendimentos que serão utilizados para aquisição de bens nacionais e europeus. Esta política terá um efeito benéfico directo na balança de pagamentos e no poder de compra dos consumidores, mas poderá beliscar os interesses estabelecidos das petrolíferas, do «cluster» do gás e da electricidade e as receitas do Estado... O Estado, no entanto, recuperará estas receitas no aumento de consumo, na melhoria do balanço dos pagamentos e na melhoria da conjuntura, criadora de empregos. Quando mais tarde se iniciar a política de contenção do consumo energético, maior será o atraso e a fraca produtividade da economia portuguesa. Obviamente, esta política implicará uma fortíssima revitalização dos transportes colectivos e o desenvolvimento de alternativas ao gasóleo tais como o biodiesel, oportunidade para a agricultura. O aumento do uso dos transportes públicos permitiria terminar a política de desenvolvimento pelo asfalto, diminuir engarrafamentos e transferir verbas do individual para o colectivo...

Aumento de produtividade e de estabilidade económica. A percentagem de energias renováveis no consumo energético, a distribuição das dependências as energias fósseis e nuclear, e o uso racional da energia no consumo e na produção de bens e serviços, determinam um rácio de estabilidade numa envolvente de forte flutuação dos preços das energias fósseis. Este rácio pode ser completado pela rigidez do consumo expresso essencialmente pela qualidade das infra-estruturas de transportes públicos. Os países da UE com rácio mais baixo serão os mais expostos a uma crise energética e os mais sensíveis à mudança tecnológica que terá de operar-se nos próximos 10 - 20 anos. Os líderes oferecem uma envolvente mais estável e com maior competitividade. Assim, os países que inovam e optimizem os seus recursos energéticos têm já uma vantagem competitiva em relação a outros países que poderão mais facilmente passar de uma crise energética a uma crise social e económica. A gestão avançada dos recursos energéticos é também um factor de produtividade e diferenciador que Portugal deve rapidamente considerar para atrair o investimento estrangeiro. Uma economia dependente do petróleo e do gás é mais exposta a conjuntura de curto, médio e longo prazo.

Melhoria da qualidade de vida e do ambiente. O desenvolvimento de energias alternativas está em sinergia com a melhoria do ambiente e da qualidade de vida. A criação de um mercado de recuperação, para a queima, dos resíduos florestais em centrais termoeléctricas como a de Mortáguas constitua uma oportunidade única para criar um produtor de energia de dimensão, independente, português e competidor da EDP. Actualmente, a EDP não se mostrou muito interessada no desenvolvimento desta rede de centrais de queima de resíduos florestais e prefere investir na barragem do Sabor... Existe uma inércia tremenda que conduz aos gastos na luta contra os fogos, investimento no betão e a inacção no terreno da prevenção que me parece antes de tudo originada por uma muito fraca cultura científica dos decidores. Não se compreende porque foi a EDP a seleccionada para ser sócia deste projecto. É o poder político que fomenta os monopólios económicos privados em Portugal.

A agricultura apenas sobrevivera com uma forte diferenciação. A agricultura, ela igualmente, precisa de novas tecnologias para produzir competitivamente, plantas, árvores, por génio genético e naturalmente os tão falados OGM, para produzir moléculas... ou rosas arco-íris. Sem alta tecnologia, a agricultura será muito dependente dos produtores de sementes mundiais, elo da cadeira de valor onde a margem se realiza... Ora, ao contrário do que se pensa, tratam-se de tecnologias bastante industrializadas e de implantação exequíveis em Portugal, em termos de produção. A Globalização obrigará a diminuição das subvenções e da PAC. Os produtos agrícolas básicos tais como a batata, o arroz, irão sofrer uma forte concorrência e o poder político não poderá intervir. A agricultura deve procurar diferenciar-se e diversificar-se, por exemplo, a curto prazo, na produção de biodiesel.

Os universitários precisam do choque tecnológico. Óbviamente, sem choque tecnológico, é ilusório fomentar a educação universitária. Falta-lhe o seu mercado de emprego. Apenas se fomenta assim a emigração, fuga dos cérebros e o tecno-fado! Todas as políticas devem ser redefinidas em redor deste novo designo nacional. É clarividente que este objectivo mobilizador criará empregos qualificados e produzirá importantes factores multiplicadores. Se Portugal seleccionar correctamente os sectores prioritários, haverá um forte aumento da «atractibilidade» de Portugal para o investimento estrangeiro. Neste artigo sublinha-se que a fileira da energia solar poderia ser uma oportunidade diferenciadora em relação, por exemplo, ao Este Europeu. Outros terão uma visão mais centrada nas TI, na produção de medicamentos genéricos para o mercado lusófono, «software» de telecomunicações para o mercado global, exploração dos mares, etc... José Sócrates apelou a um debate nacional e fez muito bem. É preciso parar e pensar antes de agir.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio