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Robocop?

François Mitterrand dizia que a maior qualidade que um político deveria ter era a indiferença.

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Ninguém duvida. Mas a frase que transpira Maquiavel por todos os poros foi proferida numa época em que a Europa vivia no paraíso do crescimento económico. Era possível ser indiferente ao bem-estar. Esse oásis secou. E, mesmo que queira, um líder político não pode ficar indiferente à dor que distribui para evitar que o doente que tem entre mãos pereça. A Europa começou a arder na Grécia e o incêndio está longe de ser contido. Não há austeridade indolor e este Governo não tem nas mãos uma caixa de bombons para distribuir pelos portugueses. Mas terá de ter sensibilidade social. Uma crise financeira é um ferro em brasa: implica uma crise da economia real que pode descambar numa crise social. É essa gestão política que qualquer Governo tem de fazer. Este Governo tem muitos ministros que falam, e ainda bem, a linguagem do FMI e do BCE. Terá de ter alguns que falem a língua franca da sociedade. É esse equilíbrio (a dureza e a diplomacia temperada de esperança) que terá de moldar o seu discurso político. Tem de ser técnico porque o problema central é a dívida e o défice. Terá de ser político porque a sociedade vai ficar com feridas que demorarão a cicatrizar. Porque o candidato óbvio para os cortes orçamentais é o sector dos benefícios sociais. O reverso da medalha da austeridade é um buraco negro. Este Governo não terá de ser apenas um Robocop. Tem de mostrar que a opção não é entre o caos e o pânico. Porque não será só com austeridade que se resolverá a doença que mina o país.

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