Opinião
Ricardo Contino: «BVLP-Uma Bolsa à Parte»
Ao longo das últimas semanas, assistimos a uma queda generalizada dos índices mundiais. Resultados menos bons, o petróleo acima dos 30 dólares, o euro fraco, a crise no Médio Oriente, tudo ajudou a uma desvalorização tão dramática como previsível.
Lisboa não foi excepção e os nossos índices foram levados a valores considerados por alguns inalcançáveis para este final de ano. Na passada semana, o nosso principal índice chegou a uma resistência de longo prazo nos 10.700 pontos e as nossas principais “blue chips” alcaçaram, também elas, os valores de suporte.
Foi nesta conjuntura que o Governo privatizou a última fatia da EDP. É aqui que se inicia a minha análise. Embora a conjutura não ajudasse, a EDP foi demasiado penalizada pelo mercado até ao dia de hoje. Uma queda acentuada e com um volume muito acima do normal fez a EDP baixar até aos 3,15 euros, obrigando o Governo a privatizá-la a 3,1 euros. Esta situação custou ao Governo (ou melhor ao bolso dos contribuintes) 80 milhões de contos!!!, isto quando comparando o valor da privatização com a média das sessões que a antecederam.
Nem mesmo a recuperação fantástica de Nova York e o facto de alguns analistas terem assumido que chegamos ao fundo da queda, ajudaram o nosso mercado e a EDP. Hoje assistimos ao exemplo mais gritante. Após termos fechado na sexta-feira negativos, observamos os restantes mercados a subir, Nova York a subir e o sector das telecomunicações a ser o mais valorizado na Europa. Perante tudo isto, o nosso mercado voltou a cair e a PT voltou a valores abaixo dos 10 euros.
Será que alguém se esqueceu de fechar vendas?... Será que alguém quer fazer na PT ao que assistimos na EDP?
É por situações como estas que assistimos a pequenos e médios investidores a mudarem ou a tentarem mudar para outros mercados, mais eficientes e transparentes. Tecnicamente, tenho de admitir que existe espaço para uma queda maior na PT. No entanto, a acção está já muito penalizada e se compararmos a actual conjuntura com a do início do mês, esta já não justifica uma contínua e pesada desvalorização da cotação. Bem sei que os fundos que façam réplica do índice PSI tiveram que reacertar carteiras devido ao aumento do peso da EDP. Tenho, por isso, agora curiosidade em ver o que irá acontecer à cotação quando o mercado voltar a não que depender deste factor para evoluir.
Chego, assim à conclusão de que infelizmente somos um mercado cada vez mais à parte, numa economia cada vez mais à parte e com consequências cada vez mais negativas para os investidores portugueses. Guardo uma réstia de esperança, de que o mercado não dê razão aos receios que acabei de expor, e de que venha a tornar-se mais transparente e eficaz.
Ricardo Contino é «senior trader» na BNC Corretora.