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Opinião
05 de Janeiro de 2007 às 13:59

Reflexões sobre ambiente e diversificação energética

Os dados mais recentes da evolução das emissões de CO2 indicam que a Europa dos 15 apresenta uma taxa de crescimento, no período de 2000 a 2004, bastante superior à verificada nos EUA, como se pode observar no gráfico.

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Emissões de CO2 nos EUA crescem menos que na Europa

Se tivermos em conta que a taxa de crescimento do PIB nos EUA, no período de 2000 a 2004 foi 38% superior à observada na Europa dos 15 e que a taxa de crescimento da população foi o dobro da observada na Europa, é possível concluir que os EUA estão a ter maior êxito no controlo da poluição e das emissões de CO2 que a Europa.

Em jogo estão duas formas distintas de atacar um problema que todos reconhecem existir: do lado da Europa, baseado na visão determinada por Quioto, o entendimento de que o problema só se resolve penalizando a actividade económica e impondo cada vez mais limites à competitividade empresarial; do lado dos EUA e de outros países que não aderiram a Quioto o entendimento de que importa, antes de tudo, promover a inovação tecnológica e a diversificação da produção energética e que tal só é possível com um tecido empresarial forte e dinâmico.

A função determinante dos mercados e da inovação empresarial

Assim, os EUA têm sido capazes de manter um crescimento económico notável que permitiu, ao mesmo tempo, um investimento significativo em novas tecnologias da energia. Esse investimento tem sido combinado com políticas governamentais de diferenciação positiva de investimentos em tecnologias limpas. Por exemplo, o nível de créditos fiscais concedidos recentemente só ao investimento em nove novas centrais a carvão de tecnologia limpa ultrapassou os mil milhões de dólares.

Os mercados financeiros internacionais começam a apostar de forma crescente no investimento nas áreas de energia renovável, estimando-se que o investimento mundial em 2006 em energia solar e eólica atinja 40 a 49 mil milhões de US$. O número de fundos de capital de risco especializados no investimento em novas tecnologias da energia tem aumentado consideravelmente e o investimento em I&D por parte dos diversos Governos, a começar pelos EUA, tem crescido também de forma exponencial. Nos três primeiros trimestres de 2006 o investimento em capital risco em energias renováveis atingiu 1,7 mil milhões de US$, cinco vezes mais que o observado no mesmo período de 2004.

O problema com a aproximação de Quioto e da Europa nesta matéria é que pretende, em primeira instância, atacar o tema das emissões poluentes imputando a responsabilidade às empresas e impondo-lhes um ónus económico que terá apenas como consequência a sua deslocalização para outras partes do mundo e o atraso irremediável da Europa em mais uma área da inovação tecnológica e cientifica.

A importância de se adoptarem soluções equilibradas

O investimento em bioenergias – biodiesel, etanol, etc. – tem vindo a crescer exponencialmente. Trata-se de mais uma importante forma de diversificação das fontes de energia que diminuirá a dependência dos combustíveis fósseis.

Contudo, começam a levantar-se algumas questões quanto ao impacto ambiental de um excesso de investimento nesta área. Recentemente, o "The Wall Street Journal" publicou um artigo em que descrevia o problema crescente da degradação dos solos e dos fios de água na Indonésia, provocado pela cultura intensiva de cana-de-açúcar para produzir etanol. Esse é, aliás, um problema que o Brasil também sofre. O risco maior é, sem dúvida, o impacto que culturas intensivas possam vir a ter na contaminação de fontes de água, bem tão ou mesmo mais precioso e escasso que o petróleo.

O mesmo problema é crescentemente discutido à volta da poluição visual e material provocada pela colocação indiscriminada de torres eólicas nas paisagens naturais e até em conglomerados populacionais. É, aliás interessante notar a diferença entre as campanhas de alguns ambientalistas contra a colocação de antenas para as redes de telemóveis em alguns pontos do país e a ausência total de qualquer crítica à localização das torres eólicas.

Em suma, a questão ambiental não será resolvida com o recurso a armas de arremesso ideológicas que, encobrem, em muitas circunstâncias, dogmas da nostalgia socialista, mas sim com a adopção de mecanismos que incentivem a racionalidade económica na gestão dos recursos disponíveis.

O que a experiência crescentemente mostra é que não existem soluções milagrosas para os problemas com que a sociedade humana se defronta. Mas também está provado que a melhor forma de os resolver é o de criar condições para que a criatividade e o espírito de iniciativa individual possam desenvolver-se em ambiente favorável.

É por isso que os Governos, em vez de se dedicarem a restringir e onerar as condições de desenvolvimento da actividade económica, devem, pelo contrário estimular a iniciativa privada, discriminar positivamente a inovação e as tecnologias limpas e promover acções que conduzem a alterações estruturais de comportamento do lado da procura.

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