Opinião
"Germans have to pay all!"
Esta frase sancionatória teria sido proferida por Lloyd George em 1919 quando, juntamente com o Presidente Wilson e o primeiro-ministro Clémenceau, impôs à derrotada Alemanha a assinatura do Tratado de Versalhes.
Lloyd George estava em véspera de eleições e tinha que lidar com os instintos punitivos do seu eleitorado Inglês.
O Tratado de Versalhes foi assinado em 28 de Junho de 1919 em condições humilhantes para a Alemanha. Keynes, que lutou enquanto pôde para evitar que os Aliados impusessem aos vencidos condições e encargos insuportáveis, escreveu então: "a batalha pela paz está perdida".
Encontrei estas e outras úteis reconstruções históricas numa biografia de Keynes, assinada por Reinhard Blomert e prefaciada, de forma curiosa, rigorosa e sucinta por Nicolau Santos.
Parece evidente que está em incubação, na Europa e fora dela, um certo sentimento " anti-merkeliano" que contagiou já editorialistas de imprensa tão respeitável como o "The Economist" e o "Financial Times".
Alguém dizia que tudo se explica pelo "síndroma de Versalhes", ou seja:
- as condições humilhantes impostas ao povo alemão pelos Aliados, no tratado de Versalhes, conduziram ao caos económico e financeiro da Alemanha e ao consequente aparecimento da ideologia Nacional Socialista e tomada de poder por Hitler;
- como premonitoriamente avisava Keynes, perdida a batalha pela paz, aconteceu a 2ª Guerra Mundial que destroçou outra vez a Alemanha e a Europa;
- como se isso não bastasse, a Alemanha foi dividida por Estaline e Truman, perante a impotência de Churchill que, por ter perdido as eleições, já não participou nas negociações finais do tratado de Potsdam;
- dessa partilha resultou uma Alemanha livre que beneficiou, tal como toda a Europa, da ajuda financeira do plano Marshall mas, também, uma outra Alemanha sem liberdade e sem progresso económico em que a Sra. Merkel viveu até à queda do Muro de Berlim, ou seja, até aos seus 35 anos.
Sou um admirador, quase invejoso, da organização, da disciplina, da cultura e da tecnologia alemã mas parece claro que a exagerada ortodoxia económica e financeira da Sra. Merkel conduzirá ao fim do Euro e da União Europeia e a um generalizado sentimento de culpabilização da Alemanha.
Prevêem os mais pessimistas, isto é, quase todos os analistas, que o Euro acabará no próximo dia 9 de Dezembro, porque o Conselho vai deixar escapar a última oportunidade de transmitir confiança ao que, eufemisticamente, se convencionou chamar "mercados".
A não ser que Frau Merkel abandone a sua ortodoxia e explique aos alemães que o despesismo do resto da Europa, designadamente dos países periféricos, foi abundantemente alimentado pelo crédito, pelos produtos e até pela corrupção oriundos da Alemanha.
O problema é que os alemães, que nada leva a supor serem inimputáveis, não se entusiasmam com o Euro, nem parecem temer o descalabro da União Europeia. Segundo os jornais 78% acham que Frau Merkel está no caminho certo!
Esperemos que a Sra. Merkel, ao contrário de Lloyd George em 1919, não se preocupe apenas em contentar o seu eleitorado.
Advogado
mcb@mcb.com.pt
Assina esta coluna semanalmente à quarta-feira
O Tratado de Versalhes foi assinado em 28 de Junho de 1919 em condições humilhantes para a Alemanha. Keynes, que lutou enquanto pôde para evitar que os Aliados impusessem aos vencidos condições e encargos insuportáveis, escreveu então: "a batalha pela paz está perdida".
Parece evidente que está em incubação, na Europa e fora dela, um certo sentimento " anti-merkeliano" que contagiou já editorialistas de imprensa tão respeitável como o "The Economist" e o "Financial Times".
Alguém dizia que tudo se explica pelo "síndroma de Versalhes", ou seja:
- as condições humilhantes impostas ao povo alemão pelos Aliados, no tratado de Versalhes, conduziram ao caos económico e financeiro da Alemanha e ao consequente aparecimento da ideologia Nacional Socialista e tomada de poder por Hitler;
- como premonitoriamente avisava Keynes, perdida a batalha pela paz, aconteceu a 2ª Guerra Mundial que destroçou outra vez a Alemanha e a Europa;
- como se isso não bastasse, a Alemanha foi dividida por Estaline e Truman, perante a impotência de Churchill que, por ter perdido as eleições, já não participou nas negociações finais do tratado de Potsdam;
- dessa partilha resultou uma Alemanha livre que beneficiou, tal como toda a Europa, da ajuda financeira do plano Marshall mas, também, uma outra Alemanha sem liberdade e sem progresso económico em que a Sra. Merkel viveu até à queda do Muro de Berlim, ou seja, até aos seus 35 anos.
Sou um admirador, quase invejoso, da organização, da disciplina, da cultura e da tecnologia alemã mas parece claro que a exagerada ortodoxia económica e financeira da Sra. Merkel conduzirá ao fim do Euro e da União Europeia e a um generalizado sentimento de culpabilização da Alemanha.
Prevêem os mais pessimistas, isto é, quase todos os analistas, que o Euro acabará no próximo dia 9 de Dezembro, porque o Conselho vai deixar escapar a última oportunidade de transmitir confiança ao que, eufemisticamente, se convencionou chamar "mercados".
A não ser que Frau Merkel abandone a sua ortodoxia e explique aos alemães que o despesismo do resto da Europa, designadamente dos países periféricos, foi abundantemente alimentado pelo crédito, pelos produtos e até pela corrupção oriundos da Alemanha.
O problema é que os alemães, que nada leva a supor serem inimputáveis, não se entusiasmam com o Euro, nem parecem temer o descalabro da União Europeia. Segundo os jornais 78% acham que Frau Merkel está no caminho certo!
Esperemos que a Sra. Merkel, ao contrário de Lloyd George em 1919, não se preocupe apenas em contentar o seu eleitorado.
Advogado
mcb@mcb.com.pt
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