Opinião
Portugal em queda livre
Na semana passada um aventureiro decidiu testar os limites da humanidade. Depois de uma primeira tentativa falhada num clima de condições adversas, avançou destemido, corajoso perante a estupefacção generalizada, confiante no trabalho de laboratório e seguro das simulações científicas, ao alcance apenas de algumas mentes iluminadas. Nunca ninguém havia ousado algo com um risco de execução tão elevado. Um falhanço não seria um desconfortável insucesso. Seria uma tragédia.
Esse aventureiro foi Vítor Gaspar. Esse aventureiro foi Felix Baumgartner. O segundo levou o seu corpo à estratosfera, transportado por um balão numa cápsula proto-espacial. O primeiro levou um povo inteiro perto da insanidade, transportado por um Orçamento de Estado proto-imoral.
Ambos deram um louco passo em frente e mergulharam no vazio. Ambos testaram o desconhecido.
Baumgartner já confessou que não teve qualquer gozo no salto em que esteve quatro minutos e vinte segundos em queda livre. Os 40 segundos em que esteve a girar descontroladamente podiam tê-lo morto. Só o esbracejar numa espécie de natação simulada lhe permitiu controlar as rotações e deixar-se levar pela força mais previsível da gravidade. Os portugueses já estão em queda livre, os seus 40 segundos vão demorar meses e também ninguém parece estar a tirar qualquer gozo disto. Os portugueses só se podem servir de um instinto de sobrevivência e auto-preservação inato e fundado numa herança de sofrimento tranquilo. É o nosso esbracejar, é a nossa natação simulada, à espera da pancada da gravidade.
Na queda, Baumgartner quebrou a barreira do som, protegido apenas por um fato inovador que mudará o curso da evolução científica. Um fato que impediu que o seu corpo se dilacerasse num estado gasoso. Os portugueses esperam que o fato da troika que vestem neste salto no escuro da macro-economia os proteja da decomposição psicológica, económica, social ou moral.
Em 2013 vamos quebrar a barreira do som da austeridade. É preciso que o fato aguente, que a nossa cabeça aguente esta descontrolada rotação do corpo em que entrámos desde o histórico anúncio da Taxa Social Única. É preciso esbracejar. É preciso que depois da queda livre, o pára-quedas abra e que abra a tempo de amortecer a nossa queda. A questão é que Baumgartner deu o seu salto de olhos abertos para a História, convicto na sua façanha, e com a sua própria cabeça a girar. Vítor Gaspar e a troika empurram-nos para o vazio, também convictos na façanha. Mas não é a cabeça deles que está a girar, é a nossa.
*Editor de Empresas
Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios
Ambos deram um louco passo em frente e mergulharam no vazio. Ambos testaram o desconhecido.
Na queda, Baumgartner quebrou a barreira do som, protegido apenas por um fato inovador que mudará o curso da evolução científica. Um fato que impediu que o seu corpo se dilacerasse num estado gasoso. Os portugueses esperam que o fato da troika que vestem neste salto no escuro da macro-economia os proteja da decomposição psicológica, económica, social ou moral.
Em 2013 vamos quebrar a barreira do som da austeridade. É preciso que o fato aguente, que a nossa cabeça aguente esta descontrolada rotação do corpo em que entrámos desde o histórico anúncio da Taxa Social Única. É preciso esbracejar. É preciso que depois da queda livre, o pára-quedas abra e que abra a tempo de amortecer a nossa queda. A questão é que Baumgartner deu o seu salto de olhos abertos para a História, convicto na sua façanha, e com a sua própria cabeça a girar. Vítor Gaspar e a troika empurram-nos para o vazio, também convictos na façanha. Mas não é a cabeça deles que está a girar, é a nossa.
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