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21 de Julho de 2010 às 11:32

“Other man’s money”

A retirada, pouco antes da meia-noite do dia 16 de Julho de 2010, da oferta da Telefónica para aquisição da participação da Portugal Telecom na brasileira Vivo, traduziu-se, em bom português, no pior dos maus negócios para a operadora portuguesa.

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Diga-se o que se disser, a Portugal Telecom queria vender, não vendeu e como resultado, não recebeu 7,15 mil milhões de euros. Mas se a Portugal Telecom queria vender, se a Telefónica queria comprar e a operação não se concretizou, o que pode justificar a irracionalidade do resultado?

Talvez dizer que a Portugal Telecom queria vender seja uma verdade simplificada em demasia. Na verdade, os accionistas da Portugal Telecom queriam vender e a maioria favorável à venda era superior a 90%, descontados os votos do sector público. Os contribuintes ficariam também confortados. Mas como a venda não se fez, há necessariamente que concluir que a Portugal Telecom é uma raridade jurídica e financeira ou que há raposa na capoeira. Para bom entendedor…

A sobrevivência, numa economia de mercado, de sociedades de capital privado coexistindo com uma pequena participação qualificada do Estado, vulgo golden share, decorre pura e simplesmente de a golden share não ser utilizada. O mesmo se passava com os arsenais MAD (destruição mútua assegurada) do tempo da Guerra Fria. Em cenários, tanto de ficção como da História recente (recordem-se Cuba e a crise dos mísseis, Berlim e a queda do Muro), sempre existiu o botão com que o homem dele encarregado podia fazer tudo menos carregar no dito botão. Salvas as devidas distâncias e a modéstia do País e do sector, alguém se esqueceu deste princípio básico…

Este caso - que seria burlesco se não fosse sério - em que os accionistas da Portugal Telecom assumem o papel de “noivas enganadas” e o contribuinte faz as despesas da festa que não houve, mostra que temos à solta quem carregue num botão (chamemos-lhe de botão dourado) que lhe foi confiado com um rótulo “Não Mexer!”. … Ainda assim, tudo estaria bem – ou mal como quase tudo hoje em dia na nossa economia – se quem decidiu, decidisse sobre o que é seu. Mas, infelizmente, ao fim do dia, foi o guarda do tal “botão dourado” quem dispôs do “other man’s money”… É obrigatório perguntar: Porquê?


(este texto reflecte apenas o ponto de vista do autor e não vincula nem a instituição em que trabalha, nem o Jornal de Negócios)





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