Opinião
Os terroristas perderam
Somos levados a concluir que a destruição do WTC, embora dramática, não catapultou a economia Mundial para uma recessão mais profunda. Pedro Manuel Leite
Agora, um ano volvido sobre os atentados em Nova Iorque, parece-me importante reflectir sobre algumas lições que os investidores poderão ter extraído de um período que será, indubitavelmente, lembrado como dos mais extraordinários da nossa existência.
Passados doze meses sobre os fatídicos acontecimentos, os índices bolsistas internacionais - nomeadamente americanos, europeus e do Japão - não estão muito melhores que nos dias imediatamente a seguir aos ataques. Após a recuperação encetada no final de 2001, a qual parecia evidente e irreversível, os investidores, ainda na ressaca da "bolha especulativa" das chamadas dotcom, refrearam os ânimos e os mercados retrocederam, inexplicavelmente, para os níveis de Setembro de 2001.
Esta situação pode parecer absurda! Os receios dos investidores e do público em geral, em Setembro de 2001, eram enormes. O clima de incerteza aumentava exponencialmente o risco associado a este tipo de investimento. As transacções bolsistas eram voláteis e privilegiava-se o lado emocional em detrimento do racional (por ex: nos EUA o facto de não deixar abalar o espírito empreendedor Americano).
Qualquer investidor que pensasse rentabilizar o seu dinheiro em acções, no período imediatamente após os ataques, era confrontado com a possibilidade real de novos actos terroristas, os custos incertos de uma guerra que se anunciava (Afeganistão) e, mais grave, o espectro de uma iminente recessão fortemente exacerbada pelos ataques. A esmagadora maioria dos investidores, face a um cenário tão pouco animador, optou por NÃO FAZER NADA!
Actualmente, muitos dos receios anteriormente apontados desapareceram. Excepto, talvez, a pseudo-ameaça do "Fenómeno Anthrax", não foi perpetrada qualquer acção terrorista em solo Europeu ou Americano. A Guerra no Afeganistão foi um sucesso, com um número mínimo de baixas entre as forças Ocidentais, o derrube do regime Talibã e o desmembramento (embora lento) da rede terrorista Al-Qaeda.
Somos levados a concluir que a destruição do WTC, embora dramática, não catapultou a economia Mundial para uma recessão mais profunda.
Não quero com isto dizer, como è óbvio, que todo o clima de incerteza gerado pelo 11 de Setembro tenha desaparecido. As democracias ocidentais continuam em «Estado de Alerta» e as ameaças de novos ataques têm um certo grau de possibilidade.
Osama Bin Laden e Mullah Omar continuam em liberdade, o que significa que o objectivo principal da intervenção no Afeganistão continua por cumprir. A juntar a estes factores, a recente ameaça de uma escalada militar contra o Iraque veio desestabilizar ainda mais a, já de si trémula, situação internacional.
Vamos, por um instante, assumir que 50% do grau de incerteza, motivados pelo 11 de Setembro tenham desaparecido, ou seja, os investidores teriam recuperado «metade» da confiança. Se tal fosse verdade, os índices mundiais apresentariam valores bem mais animadores do que na realidade apresentam.
Todavia, tal não acontece, o que nos leva a extrair uma conclusão muito importante: o mercado funciona num vácuo. Embora fosse fácil justificar a falta de actividade e empreendorismo com o 11 de Setembro, passado algum tempo a vida seguiria o seu rumo normal, pois, um único evento, por mais grandioso que tenha sido, não pode, por si só, «castrar» todas as iniciativas económico-financeiras à escala planetária. Infelizmente nada disso aconteceu e surgiram rapidamente outros eventos, nomeadamente escândalos financeiros de grandes proporções em empresas que pareciam intocáveis do ponto de vista de credibilidade; as falências de empresas tecnológicas que «pululavam» como cogumelos nos finais dos anos 90, dentre outros. Como se tivesse havido uma lufada de ar fresco, rapidamente abafada!
Os investidores têm tendência em exagerar nas consequências negativas de qualquer acontecimento, esquecendo-se que a economia mundial è, de longe, mais complexa que qualquer evento isolado, por mais traumático que este seja. Enquanto os efeitos reais de um desastre como o que ocorreu no dia 11 de Setembro podem ser surpreendentemente limitados no tempo, a carga psicológica, negativa, associada è bastante mais profunda e, consequentemente, duradoura. Não me parece casual que o escândalo ENRON e todos os que se seguiram tenham rebentado poucos meses após o 11 de Setembro de forma a captar a atenção da opinião pública mundial, com o impacto de uma verdadeira "tsunami".
Fraudes gigantescas de empresas - outrora símbolos de progresso e inovação - geraram um enorme sentimento de repulsa. O contraste nítido entre os que se sacrificavam por uma causa Nobre (The American Way of Life) e os que se aproveitarem das suas posições privilegiadas para benefícios, exclusivamente, próprios.
Analisando o ano que passou, chegamos à conclusão de que os investidores tiveram um comportamento razoável, embora meritório, e que os mercados de capitais continuaram, eficazmente, em actividade. A onda de falências e escândalos, dolorosa do ponto de vista financeiro para quem investe em empresas saudáveis, irá dar lugar a um sentimento de confiança e credibilidade a médio/longo prazo.
Os terroristas podem ter causado (e causaram) enormes prejuízos em vidas humanas e materiais, mas falharam no objectivo principal: colocar de rastos as economias ocidentais!
O 11 de Setembro de 2001 NÃO PODE ter mudado isso!
Pedro Manuel Leite
Strategic Business Manager
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