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Opinião
13 de Março de 2007 às 13:59

Os pólos e o vácuo

Bush e Chávez. Os dois pólos americanos. A que ponto chegámos. Que futuro esperar quando todas as atenções suscitadas pela visita de um presidente dos Estados Unidos (sendo esse quem é) à América Latina são as que se referem às provocações de um president

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Enquanto Bush chegava ao Uruguai, Chávez atraía milhares de pessoas a um estádio de futebol da Argentina para, diante da multidão entusiasmada, chamar o seu adversário de " cowboyzinho do norte" e prometer-lhe uma "medalha de ouro da hipocrisia". Hipocrisia porque o presidente dos EUA se diz preocupado com a pobreza da América Latina "quando o Império americano é o maior culpado". Ao fundo do palco, em alto contraste, a velha fotografia de Che Guevara. Ícones óbvios, retórica gasta, apelos fáceis. Terminado o comício, a multidão entusiasmada vai combater o imperialismo atirando pedras e sacos de tinta vermelha ao McDonald’s mais próximo. Um dia histórico.

Falou-se em tratados bilaterais de comércio, e do desconforto gerado por eles no Mercosul, cujas regras os impedem; falou-se no etanol e nas suas potencialidades como biocombustível; falou-se em narcotráfico e no seu combate; mas o que realmente importa, a razão a que de facto se pode atribuir a visita de Bush à América Latina, e o parâmetro por que será ela avaliada, é a tentativa de reduzir a influência de Chávez na região.

Chávez não podia pedir mais. Não há populismo sem Satã, Vilão, Inimigo ou seja lá qual for o nome (até "cowboyzinho do norte" serve) que se dê ao Mau-da-Fita. E que melhor Mau-da-Fita pode um populista (iraniano ou venezuelano) querer do que George W. Bush? "Cadáver político", chamou-lhe Chávez, parecendo reivindicar para si parte do mérito que caberia a todos os que tenham participado da execução política de Bush. Já houve momentos em que pensei que Bush era assessorado por fundamentalistas islâmicos. Agora desconfio de que haja chavistas infiltrados na Casa Branca, tal a riqueza de oportunidades que oferecem ao populismo reguila do presidente venezuelano. Chávez não serve a Bush mas Bush serve a Chávez. Com Clinton tudo seria muito mais difícil. Demasiadamente simpático para o papel – e ainda por cima sofre daquela que, aos olhos latinos, é a mais simpática das fraquezas: a da carne. Chávez precisa de Bush quase tanto quanto do petróleo que lhe alimenta o bolivarismo.

E nem com a sombra de um Fernando Henrique Cardoso tem Chávez que se preocupar. Lula da Silva é dócil (a Chávez e a Bush) e se, como presidente, dificilmente será mais do que medíocre, como líder regional não tem mesmo nenhuma hipótese. Chávez é produto do petróleo, sim, mas também do vácuo.

E o vácuo não é exclusividade latino-americana. Pode expandir-se até por democracias que se julgam perfeitamente consolidadas. O vácuo de que se faz a sedução bolivariana é tão vácuo quanto aquele de que se faz o saudosismo salazarista.

PS: Qual vácuo? Aquele deixado pela autoridade a quem caberia reprimir o abuso dos que, no vácuo, autorizados se sentem a pôr-me a andar no meio da rua enquanto espalham os seus carros pelos passeios (passeios!) públicos (públicos!).

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