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27 de Dezembro de 2001 às 16:43

«Os números e as Pessoas»

Olá… bem vindos a esta pequena conversa. Queria partilhar e conversar um pouco convosco sobre o “poder dos números” no comportamento Profissional das Pessoas. Espero que gostem.

José Pedro Soeiro, Deloitte Consulting

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A minha querida Avó, a quem Deus Chamou faz muito pouco tempo, dizia que eu ia ser um novo Salazar, tal era a minha apetência em miúdo para números, sobretudo quando esses números reluziam ou estavam escritos num pedaço de papel que até dava para comprar umas coisas…



Na verdade, o que me lembro mesmo, era de ter sido um “puto” chato que tinha a mania de controlar o dinheiro que havia em casa, de tal forma que era eu que ia ao supermercado (com oito anos) e escolhia o arroz mais barato e afins, o que deixava a minha Mãe ainda com mais cabelos brancos do que já tinha na época … felizmente para todos em Salazar não me tornei, e felizmente também, que hoje os meus pais já podem fazer as compras de casa a seu belo prazer… e claro tornei-me um consumista típico, que diga a rapaziada do el Corte Inglés… só que numa coisa não mudei… foi no meu interesse por números… e na minha crença que os mesmos são fundamentais, porque são objectivos e orientadores; ora então vamos lá conversar um pouco sobre isto.

Em época de crise nos indicadores macro económicos e “no bolso” das pessoas, voltamos a falar do tema da menor produtividade dos Portugueses, que os mesmos são iletrados, conformistas, que não querem trabalhar, que estão constantemente a queixar-se e que no final são pouco produtivos … pois … e então? Senhores responsáveis por gerir Pessoas, o que podem vocês fazer para contribuir para que as coisas mudem? Analisem e tentem perceber o que realmente faz com que as vossas Pessoas passem a ter comportamentos e resultados diferentes do que apresentam hoje. Naturalmente que não existem fórmulas mágicas … naturalmente que nem todas as Pessoas são recicláveis e motiváveis, mas … falem-lhes de números… mas não dos números que elas estão sempre a falar… não discutam salário e regalias, comecem por lhes falar sobre:

- como medir em números o que realmente elas produzem;

- como medir em números a forma como elas podem evoluir;

- como medir em números a forma como o colega do lado se comporta;

- e também como medir em números a forma como a Organização evolui no proporcionar de melhores meios de trabalho … números, nada mais objectivo…

As Pessoas, para se motivarem, precisam de saber porque é que elas são importantes e, sobretudo, o quanto elas são importantes e como podem evoluir. Claro que após isto elas esperam uma compensação, mas nada mais natural, porque essa compensação será resultado de uma melhoria real de produção (quantificada), que deve ser revertida parcialmente para quem a obteve.

E como podemos nós, Gestores de Pessoas, começar a medir a sua performance através de números? Alguma ajuda para o Vosso trabalho de casa – Identifiquem:

1- Quais as componentes internas que são disponibilizadas aos colaboradores para lhes proporcionar melhores meios de trabalho (exemplos: que espaço logístico de trabalho ofereço, que formação dou, qual o plano de carreira que proporciono (existe plano de carreira?) - esse plano de carreira está directamente associado à compensação pela performance, ou os colaboradores nem sequer sabem como se pode evoluir na carreira? Como divulgo e partilho a informação sobre a minha empresa? As pessoas sentem-se informadas e parte integrante dos sucessos? Como compenso as Pessoas – somente com uma componente fixa, ou com uma parte variável com o sucesso individual e do grupo? etc., etc., etc.)

2- Então, depois de perceber como posso criar melhores meios de trabalho, começo a olhar para o “outro lado do Balanço”, i.e., como posso eu medir o Valor que cada colaborador traz para a empresa? (exemplos: volume de produção, volume de vendas, índices de crescimento, partilha de informação, partilha de vendas, etc. etc. etc., … esta é a parte mais fácil, porque é a parte que nos habituámos a cobrar desde muito cedo às Pessoas…).

Por fim, gostaria de deixar algumas notas sobre a forma como se devem gerir os números:

1- Não existem verdades absolutas – estabeleçam objectivos para as métricas, mas não tenham medo de errar. Quando se trata de Pessoas, não existem benchmarks externos 100% seguros de serem importados para dentro de casa. Estabeleça valores e faça uma constante monitorização da evolução dos mesmos e não tenha problemas em vir a corrigi-los no futuro.

2- Comuniquem às suas Pessoas o racional das métricas e os objectivos a obter. Esta não é uma função exclusiva do Departamento de Pessoal, antes pelo contrário, todos os responsáveis por equipas devem participar activamente na identificação e na gestão das variáveis (métricas) que contribuem para a evolução da produtividade das Pessoas.

3- Partilhem os resultados entre iguais – a comparação e a concorrência são sempre saudáveis. Apesar de ser uma estratégia que pode gerar maior instabilidade, se partilharem a informação sobre os resultados de cada colaborador, vão se surpreender com a capacidade de transformação dos vossos colaboradores … lembrem-se que as pessoas têm que sentir que o que fazem é útil e que a Empresa reconhece esse esforço.

4- Associem os resultados a compensação extra, seja ela através de remuneração extraordinária ou de outro tipo.

… pode ser que assim, em vez de estarmos a discutir 2,56% ou 2,75% de aumento de salário para o ano seguinte, estejamos a discutir índices de evolução de qualidade de trabalho, índices de satisfação das Pessoas e consequentes índices de produtividade.

Um óptimo ano novo de 2002 e façam-me o favor de serem felizes…

José Pedro Soeiro

Senior Manager

jpsoeiro@dc.com

 

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