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Os debates serão decisivos?

Os portugueses reentram devagar nas suas rotinas de trabalho, mas a campanha para as legislativas já disparou. Em finais de Agosto discutiram-se as listas dos deputados. Nessa altura, ainda em pleno Verão, confirmou-se que uma coisa é a retórica em...

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Os portugueses reentram devagar nas suas rotinas de trabalho, mas a campanha para as legislativas já disparou. Em finais de Agosto discutiram-se as listas dos deputados. Nessa altura, ainda em pleno Verão, confirmou-se que uma coisa é a retórica em relação à ética na política, outra são as realidades da composição das listas de candidatos à Assembleia da República. Dentro e fora do PSD, Manuela Ferreira Leite foi altamente criticada por ter escolhido António Preto e Helena Lopes da Costa a figurar nas listas do seu partido.

Logo depois, vieram os programas. Primeiro os dos partidos de esquerda, e depois os de direita. Neste momento, todos os principais partidos políticos já apresentaram as suas propostas e os jornais têm feito um esforço interessante de apresentação das diferenças mais emblemáticas entre as forças políticas. Não me lembro de tão grandes diferenças entre PS e PSD sobre a melhor forma de combater a crise económica. Até 1999, todos os objectivos económicos dentro do projecto europeu foram partilhados pelos dois partidos. Em 2002 e 2005, por exemplo, havia um consenso sobre a necessidade crucial de diminuir o défice público. Neste momento, como até já Jerónimo de Sousa admitiu há diferenças importantes entre Sócrates e Ferreira Leite.

Os programas diferenciam entre partidos mas eis que já parecem estar mais ou menos esquecidos: a pré-campanha segue o seu ritmo alucinante: agora já só se fala nos debates.

Haverá dez frente-a-frentes entre Sócrates, Ferreira Leite, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Paulo Portas. Além disso, Judite de Sousa já começou uma ronda de entrevistas - a semana passada com Ferreira Leite, ontem com José Sócrates. Daqui a achar que as escolhas eleitorais dos portugueses têm por base em primeiro lugar a imagem dos lideres e que tudo se joga nos debates é um instante.

Tendo em conta a forma mediatizada como se faz política no mundo hoje - e Portugal não é excepção - há uma tendência para concluir que o desfecho eleitoral desta eleição tão disputada vai ocorrer na televisão. Mas será mesmo assim?

Por estes dias será publicado, pela Imprensa de Ciências Sociais, um livro organizado por mim e pelo Pedro Magalhães, intitulado "As eleições legislativas e presidenciais 2005-2006.

Campanhas e escolhas eleitorais num regime semipresidencial", onde um conjunto de investigadores portugueses e estrangeiros analisam estas questões.

Para compreender o efeito que as campanhas poderão ter no resultado das eleições, há três capítulos úteis, respectivamente da autoria de Eduardo Cintra Torres, Susana Salgado e José Pereira. Todos eles, seguindo metodologias distintas, tentam aferir a importância dos media e das campanhas em Portugal.

Estes capítulos mostram duas coisas que podem parecer contraditórias, mas não são: por um lado que o grau de interesse pelas campanhas eleitorais em Portugal é elevado, e que a maior parte da informação política é recebida através da televisão. Além disso, os conteúdos políticos televisivos tendem a centrar-se pouco nos temas políticos, privilegiando questões como a performance dos candidatos e as sondagens.

Tendo em conta esta atenção generalizada, e o tratamento superficial dado à campanha pelos media, poderíamos concluir que as campanhas são decisivas, e que tudo se resume à imagem dos lideres. Mas não é isso que os autores concluem. Pelo contrário, não encontram sinais inequívocas de tal importância dos media nas escolhas de voto.

Estes capítulos sugerem algo de importante: embora as campanhas estejam muito mediatizadas e personalizadas não quer dizer que o mesmo se passe com o comportamento eleitoral. Uma percentagem elevada dos eleitores já sabe, antes da campanha votar o que vai fazer. Entre os restantes, a campanha pode servir para mobilizar, e os lideres também. Mas atenção: a forma como se percepciona a campanha e a própria simpatia pelo líder também é resultado do posicionamento ideológico do eleitor.



Politóloga
marinacosta.lobo@gmail.com
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