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Os assustadores custos dos empréstimos obrigacionistas das empresas nacionais

Ficam as dúvidas e a sugestão para que se invista algum tempo a ler os prospectos da generalidade das operaçõesdo mercado de capitais, fazendo os investidores (...) a necessária pressão para que as opções da gestão sejam claras.

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Estamos a assistir a um aumento significativo da procura de financiamento por parte de empresas no mercado de retalho, numa perspectiva, que se pressupõe, de eliminação de custos de intermediação por parte da banca, e uma aproximação mais directa aos aforradores que, serão em muitos casos também clientes das empresas em causa.

De facto, neste período complexo de uma crise financeira e económica, pode parecer mais sensato por parte da gestão das empresas a deslocação para um mercado que, curiosamente, só tinha vindo a ser utilizado de uma forma consistente pelas três sociedades anónimas desportivas mais representativas de Portugal (Sporting, Benfica e Porto), procurando a obtenção do já referido financiamento em melhores condições.

A questão importante neste artigo é que, se de facto analisarmos com alguma profundidade os prospectos das referidas operações de financiamento, verificamos que os custos das operações atingem milhões de euros, conduzindo a taxas "efectivas" de financiamento muito superiores ao que seria legítimo num mercado saudável e bastante superiores às taxas de dividendo ("dividend yield"), como se pode observar pelo quadro anexo. No caso das Sociedades Desportivas a situação até se percebe, pois a inexistente distribuição de dividendos e a aparente fidelização de simpatizantes clubísticos permite e aconselha estas operações. No caso de sociedades como Semapa, Zon e até REN e EDP, as taxas das operações são assim bastante superiores ao que é comunicado na vertente comercial.

Esta situação suscita diversas interrogações e constatações. Em primeiro lugar, o mercado de capitais tem um potencial de crescimento que não está a ser devidamente explorado. Penso que se tem de voltar a estimular o investimento em capital das empresas, atraindo investidores estrangeiros e nacionais, para mais numa altura em que se antevê a saída de importantes acções no mercado. Depois, temos de nos questionar quais as opções e pressões que conduzem a decisões deste tipo. À partida pode parecer que a Banca, estrangulada nos últimos anos, está a tentar compor a sua margem financeira (não só pela via dos emitentes, mas também pela via das comissões cobradas aos investidores) sob pressão da manutenção de outras linhas de crédito que concede às empresas. Curiosamente, nos relatórios e contas das sociedades cotadas em geral, vem quase sempre indicado que os empréstimos vencem juros a taxas normais de mercado. Penso que os investidores gostariam de perceber quais são estas "taxas de mercado".

Claramente se nos afigura que o benefício destas campanhas de obtenção de fundos nos parece negativo perante o potencial de rendimento dos detentores de capital, pois que, para um nível de risco superior, estão a obter um rendimento menor do que o expectável. E um possível investimento em capital não passaria necessariamente por investimento em acções ordinárias. Poderia perfeitamente passar por outros títulos equiparados, como acções preferenciais ou os famosos VMOC’s (valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis) utilizados pela Sporting SAD.

Ficam as dúvidas e a sugestão para que se invista algum tempo a ler os prospectos da generalidade das operações do mercado de capitais, fazendo os investidores (principalmente os pequenos) a necessária pressão para que as opções da gestão sejam claras.

Administrador do ISG

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