Opinião
Os 100 dias do Presidente Trump
As posições tomadas por Donald Trump confirmam a estratégia esboçada durante a campanha eleitoral em três domínios críticos: a linha nacionalista típica do populismo "jacksoniano", a visão novecentista da política internacional e a concepção clássica sobre o recurso à força como instrumento necessário na gestão das crises periféricas.
A versão original dos "cem dias" evoca o regresso de Napoleão Bonaparte, a sua derrota definitiva em Waterloo e a segunda abdicação do Imperador dos Franceses : os "cem dias" de Donald Trump na Casa Branca foram comparativamente calmos e, ao contrário do último "voo da águia", marcado pela tragédia e pela glória, os primeiros passos do novo Presidente dos Estados Unidos são demasiado curtos para se poder definir um sentido claro para a sua estratégia internacional.
As tomadas de posição do Presidente Trump confirmam a estratégia esboçada durante a campanha eleitoral em três domínios críticos: a linha nacionalista típica do populismo "jacksoniano", que rejeita a prioridade da política externa sobre a política interna ; a visão novecentista da política internacional, que troca a ordem liberal multilateral inventada pelos Estados Unidos pela concertação entre as grandes potências ; e a concepção clássica sobre o recurso à força como um instrumento necessário na gestão das crises periféricas.
Essas três orientações tiveram uma expressão política e uma tradução concreta nas decisões do Presidente dos Estados Unidos. Desde logo, a suspensão do Tratado de Parceria do Pacífico (TPP), que definia um quadro de contenção da hegemonia regional chinesa, o adiamento do Tratado de Parceria Transatlântica (TTIP), essencial para a regulação da economia internacional, assim como a renegociação dos acordos de livre comércio da América do Norte (NAFTA), que unem os Estados Unidos, o Canadá e o México, confirmam uma re-nacionalização da estratégia económica norte-americana que pode estimular a ressurgência das tendências proteccionistas.
Por outro lado, o Presidente Trump privilegia as relações directas entre os Estados Unidos e as principais potências e recebeu, por essa ordem, os primeiros-ministros da Grã-Bretanha, do Japão, do Canadá, de Israel e da Alemanha e o Presidente do Egipto, assim como o Presidente da República Popular da China – Xi Jinping foi o único que teve a honra de ser convidado para um fim-de-semana na Florida. Trump não está interessado nem nas Nações Unidas, nem na União Europeia, nem sequer na NATO: o Presidente ainda não se quis exprimir sobre a validade do mecanismo de defesa colectiva depois de o ter posto em causa durante a campanha eleitoral. O Presidente Woodrow Wilson, nas Conferências de Paris, substituiu a balança do poder europeia pela Sociedade das Nações: cem anos depois, Trump quer regressar ao concerto das grandes potências.
Por último, Trump quer demonstrar, interna e externamente, que está preparado para recorrer à força unilateralmente. A salva de mísseis contra uma base aérea síria, depois de Bashar al-Assad ter mais uma vez atacado civis com armas químicas, ou a concentração regional de capacidades militares norte-americanas, depois de Kim Jong-un ameaçar realizar novos ensaios de mísseis e de armas atómicas, mostram a sua determinação.
Em ambos os casos, as demonstrações de força são avisos dirigidos a Moscovo e a Pequim, mais do que a Damasco e a Pyongyang. Na nova doutrina, os Estados Unidos desistiram de impor a sua ordem nas "esferas de influência" da Rússia e da China e não querem depor nem o tirano alauita sírio, nem o sultão comunista coreano. Em contrapartida, Trump presume que Putin e Xi são responsáveis pelo comportamento dos seus clientes locais, que não estão autorizados a ser perturbadores internacionais.
Os melhores espíritos entendem que os "cem dias" do Presidente Trump apontam para uma "normalização" das suas políticas, sob a tutela dos generais que ocupam posições-chave na nova administração republicana. Os mais cépticos, porém, limitam-se a constatar que o regresso à normalidade só existe na continuidade do retraimento estratégico dos Estados Unidos, onde o internacionalismo liberal de Barack Obama e o nacionalismo reaccionário de Donald Trump convergem para confirmar a erosão da ordem internacional do pós-Guerra Fria.
As tomadas de posição do Presidente Trump confirmam a estratégia esboçada durante a campanha eleitoral em três domínios críticos: a linha nacionalista típica do populismo "jacksoniano", que rejeita a prioridade da política externa sobre a política interna ; a visão novecentista da política internacional, que troca a ordem liberal multilateral inventada pelos Estados Unidos pela concertação entre as grandes potências ; e a concepção clássica sobre o recurso à força como um instrumento necessário na gestão das crises periféricas.
Por outro lado, o Presidente Trump privilegia as relações directas entre os Estados Unidos e as principais potências e recebeu, por essa ordem, os primeiros-ministros da Grã-Bretanha, do Japão, do Canadá, de Israel e da Alemanha e o Presidente do Egipto, assim como o Presidente da República Popular da China – Xi Jinping foi o único que teve a honra de ser convidado para um fim-de-semana na Florida. Trump não está interessado nem nas Nações Unidas, nem na União Europeia, nem sequer na NATO: o Presidente ainda não se quis exprimir sobre a validade do mecanismo de defesa colectiva depois de o ter posto em causa durante a campanha eleitoral. O Presidente Woodrow Wilson, nas Conferências de Paris, substituiu a balança do poder europeia pela Sociedade das Nações: cem anos depois, Trump quer regressar ao concerto das grandes potências.
Por último, Trump quer demonstrar, interna e externamente, que está preparado para recorrer à força unilateralmente. A salva de mísseis contra uma base aérea síria, depois de Bashar al-Assad ter mais uma vez atacado civis com armas químicas, ou a concentração regional de capacidades militares norte-americanas, depois de Kim Jong-un ameaçar realizar novos ensaios de mísseis e de armas atómicas, mostram a sua determinação.
Em ambos os casos, as demonstrações de força são avisos dirigidos a Moscovo e a Pequim, mais do que a Damasco e a Pyongyang. Na nova doutrina, os Estados Unidos desistiram de impor a sua ordem nas "esferas de influência" da Rússia e da China e não querem depor nem o tirano alauita sírio, nem o sultão comunista coreano. Em contrapartida, Trump presume que Putin e Xi são responsáveis pelo comportamento dos seus clientes locais, que não estão autorizados a ser perturbadores internacionais.
Os melhores espíritos entendem que os "cem dias" do Presidente Trump apontam para uma "normalização" das suas políticas, sob a tutela dos generais que ocupam posições-chave na nova administração republicana. Os mais cépticos, porém, limitam-se a constatar que o regresso à normalidade só existe na continuidade do retraimento estratégico dos Estados Unidos, onde o internacionalismo liberal de Barack Obama e o nacionalismo reaccionário de Donald Trump convergem para confirmar a erosão da ordem internacional do pós-Guerra Fria.
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28.04.2017