Nunca percebi porque nos afastámos do eixo africano depois de 1986. Por complexos (que a esquerda tão bem soube instilar nos anos seguintes à Revolução) em relação ao passado colonial? Por amor dos milhões com que a Europa a 12 nos acenava? Não sei. Mas foi um erro.

Perdemos para outros um espaço precioso. Irrecuperável? Não. Porque nós temos com África uma relação que mais nenhuma ex-potência colonizadora tem. Fruto de um modelo de colonização que, apesar dos defeitos, foi mais humano do que o de outros países europeus. Razão bastante para não alinharmos em guerras alheias (ver crónica de 5 de Setembro - "The untalented Mr. Brown").

É por isso que a cimeira EU-África, promovida pela presidência portuguesa, tinha todo o sentido. A nossa capacidade de diálogo com aquele continente é claramente maior do que o de franceses e ingleses, outras ex-potências colonizadoras. Até porque, como pequenos que somos, não assustamos quem está do outro lado da mesa.

Quer isto dizer que vai haver um antes-de-Lisboa e um depois-de-Lisboa? Não. Mas conseguiu-se duas grandes vitórias: a retoma do diálogo entre dois continentes (que pode dar muitos frutos) e a afirmação de uma das poucas "unique selling propositions" nacionais: uma invulgar capacidade de entendimento com os africanos. Para que não tem muito para oferecer à Europa, não é coisa pouca.