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10 de Janeiro de 2012 às 23:30

Obama opta por guerra e meia

A hegemonia militar de Washington é inultrapassável a curto prazo, mas a reorientação estratégica de Obama apresenta equívocos de monta

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A contenção da China é a grande prioridade estratégica na doutrina de Defesa apresentada por Obama.

Constrangimentos orçamentais justificam uma redução de efectivos a compensar por maior eficácia tecnológica numa altura em que cai o compromisso de sustentar simultaneamente duas frentes de guerra.

O Pentágono visa, agora, impor-se militarmente em todas as vertentes numa guerra regional, mantendo recursos para, ao mesmo tempo, frustar uma ofensiva oportunista numa segunda frente ou, pelo menos, infligir danos insustentáveis ao adversário.

Uma superpotência mais magra

O acordo orçamental de Agosto obriga as forças armadas a reduzirem em dez anos as despesas em cerca de 8% (487 mil milhões de dólares), uma reversão em termos reais dos gastos para valores equivalentes aos do ano fiscal de 2007.

Se, contudo, o Congresso não consensualizar este ano mais cortes de 1,2 triliões de dólares no orçamento federal, o Pentágono poderá ver-se obrigado a duplicar as reduções.

As despesas militares representam 4,8% do PIB, 19% do orçamento federal (valor igual aos custos da Segurança Social), e os cerca de 700 mil milhões de dólares de 2010 ultrapassaram os gastos das demais principais 17 potências militares, segundo o "Instituto Internacional para Pesquisa da Paz de Estocolmo".

Os gastos de defesa da China, adversário com maior potencial de crescimento, rondam os 2,2% do PIB e correspondem a cerca de 17% do orçamento militar norte-americano.

A hegemonia militar de Washington impõe-se a curto prazo, mas a reorientação estratégica de Obama apresenta equívocos de monta.

Poucas botas no terreno

As forças armadas devem abandonar campanhas com vertentes de contra--insurreição e apoio à criação de estruturas estatais autónomas capazes de controlarem territórios e populações.

Sem mais "Iraques" e "Afeganistões", o exército diminuirá os seus efectivos de 570 mil para 490 mil militares, mas esta redução de tropas capazes de ocuparem efectivamente o terreno, regra perene da guerra, terá de ser "reversível".

Reservistas e efectivos da "Guarda Nacional" poderão ser mobilizados em caso de emergência, um expediente que subestima a perda de quadros experientes em operações prolongadas no terreno.

Mira tecnológica


Tal como defendia Donald Rumsfeld antes do 11 de Setembro, uma revolução tecnológica, assente na significativa melhoria da obtenção e análise de informação, deverá compensar os cortes em efectivos, sem que seja posta em causa a capacidade da força aérea e marinha, além do incremento na guerra informática e, presume-se, militarização do espaço.

Washington dispõe de larga margem para cortes nos arsenais nucleares - que em 2018 deverão limitar-se a 1.550 ogivas nos termos do "Tratado de Redução de Armas Estratégicas" com Moscovo de 2010 -, mas já será mais delicado abandonar alguns projectos da Força Aérea (caso do caça furtivo F-35) ou reduzir a frota operacional de 11 porta-aviões.

Desde a II Guerra Mundial, todas as estratégias de redução do exército e fuzileiros acabaram por fracassar ante conflitos, Vietname ou guerras contra Saddam Hussein, que requereram grande mobilização de efectivos.

Intervenções limitadas e de curta duração com recurso a forças especiais ou contigentes reduzidos surgem como opção ideal para o Pentágono, mas a realidade será outra coisa.

Ante o Irão e os republicanos

Limitar a capacidade chinesa de projecção de poder sobre rotas marítimas e a eventualidade de conflito na península coreana levam a privilegiar o teatro do Pacífico, mas, a prazo, Washington terá de conceder a Pequim uma partilha das águas.

A área de intervenção prioritária avança pelo Índico e visa a região do Golfo Pérsico.

Dos contrafortes do Hindu Kush ao Vale do Jordão, para não falar dos fornecedores petrolíferos africanos (Angola e Nigéria), somam-se interesses norte-americanos relegados para segundo plano nestas linhas de orientação estratégica do Nobel da Paz de 2009.

O Irão e os congressistas republicanos muito em breve irão pôr à prova a estratégia global de Obama.



Jornalista
barradas.joaocarlos@gmail.com
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