Opinião
O silêncio do Presidente
Ao longo de toda a sua já longa carreira política Cavaco Silva sempre se apresentou como um tecnocrata que serve o País e que não faz política partidária.
Ao longo de toda a sua já longa carreira política Cavaco Silva sempre se apresentou como um tecnocrata que serve o País e que não faz política partidária. Essa carreira começou em 1985, ano em que Cavaco foi à Figueira da Foz fazer a rodagem do carro e saiu eleito presidente do PSD. Desde então até à sua veemente recusa em ser associado a Santana Lopes nas legislativas de 2005, o Presidente da República construiu uma imagem de um homem sério a tentar contribuir positivamente para os destinos do País. Ora, este caso das escutas atinge esta imagem de Cavaco no seu cerne. Porque razão o Presidente avisa num dia que irá pedir "mais informações sobre questões de segurança" logo a seguir às eleições, para depois no outro demitir Fernando Lima, seu assessor desde 1985? À falta de mais esclarecimentos, estas reacções de Cavaco Silva aos acontecimentos acabam por não confirmar nem desmentir nada. Logo, não o isolam completamente dos graves actos alegadamente praticados por pessoas próximas a que nunca se soube que o Presidente tivesse estado ligado.
A manter-se este silêncio do Presidente da República, a eficácia do discurso partidário do PSD fica seriamente comprometida, se não mesmo completamente invalidada. A saber, o slogan da "política de verdade" e a bandeira da "asfixia democrática" que o PSD e Manuela Ferreira Leite elegeram como porta-estandartes para estas legislativas deixam de fazer qualquer sentido. É certo que a líder do PSD não está estritamente envolvida neste caso. Tal como não será responsável pelos comportamentos de António Preto e Helena Lopes da Costa. Mas é evidente que as notícias vindas a público comprometem a postura de seriedade que Ferreira Leite tenta emprestar ao seu partido e à sua candidatura a primeira-ministra de Portugal. Aliás, deve ser por isso que muitas campanhas se abstêm deste tipo de slogans: há sempre, em qualquer partido, demasiados telhados de vidro para se empreender uma campanha sob o signo da "verdade". É mais seguro para os líderes políticos, e muito mais importante para o bem-estar dos cidadãos, defender políticas credíveis. São estas que podem fazer a diferença para o futuro do País.
Perante o desenrolar dos acontecimentos como reagirá o eleitorado? Para os indecisos, que não são a maioria, mas ainda podem fazer a diferença no desfecho eleitoral, esta bomba mediática poderá desmobilizar: é a conclusão triste mas quase inevitável de que "eles são todos iguais" a que muitas vezes os cidadãos chegam. Tendo em conta as más práticas noticiadas, não valeria a pena votar. A haver uma desmobilização, no entanto, esta não deverá afectar todos os partidos por igual: deverá ser o PSD o partido que sofrerá mais do que os outros partidos. Mas mesmo para aqueles que pensavam votar, e assim o farão no próximo domingo, o desalento em relação aos partidos e às instituições políticas em geral não fará outra coisa se não aumentar, perante o silêncio do Presidente.
Mais uma vez, e à falta de esclarecimentos cabais, este caso das escutas fere no seu âmago a credibilidade uma das instituições mais respeitadas pelos portugueses. Por várias razões, a Presidência tem sido vista pelo eleitorado em geral como estando acima da política. Depois da revisão constitucional de 1982, e da prática política dos sucessivos Presidentes, a Presidência conseguiu acumular um capital importante de boa vontade junto dos portugueses. É certo que para os observadores atentos, o activismo presidencial nunca foi menos que político, e muitas vezes foi partidário. Tanto com Soares e Sampaio nos seus segundos mandatos, como com Cavaco Silva no que já passou do primeiro. Todos os Presidentes usaram os seus poderes formais e informais para influenciar e moldar a formação dos governos, o poder do executivo e a legislação aprovada. Mesmo assim, da política partidária à conspiração existe alguma distância. Em 2009, os portugueses vão ser chamados a votar em três ocasiões. Mas não vão ter descanso. A partir de 28 de Setembro começa a campanha para as presidenciais. Veremos se o silêncio do Presidente prejudica apenas Manuela Ferreira Leite.
Politóloga
marinacosta.lobo@gmail.com
Assina esta coluna quinzenalmente à quinta-feira
A manter-se este silêncio do Presidente da República, a eficácia do discurso partidário do PSD fica seriamente comprometida, se não mesmo completamente invalidada. A saber, o slogan da "política de verdade" e a bandeira da "asfixia democrática" que o PSD e Manuela Ferreira Leite elegeram como porta-estandartes para estas legislativas deixam de fazer qualquer sentido. É certo que a líder do PSD não está estritamente envolvida neste caso. Tal como não será responsável pelos comportamentos de António Preto e Helena Lopes da Costa. Mas é evidente que as notícias vindas a público comprometem a postura de seriedade que Ferreira Leite tenta emprestar ao seu partido e à sua candidatura a primeira-ministra de Portugal. Aliás, deve ser por isso que muitas campanhas se abstêm deste tipo de slogans: há sempre, em qualquer partido, demasiados telhados de vidro para se empreender uma campanha sob o signo da "verdade". É mais seguro para os líderes políticos, e muito mais importante para o bem-estar dos cidadãos, defender políticas credíveis. São estas que podem fazer a diferença para o futuro do País.
Mais uma vez, e à falta de esclarecimentos cabais, este caso das escutas fere no seu âmago a credibilidade uma das instituições mais respeitadas pelos portugueses. Por várias razões, a Presidência tem sido vista pelo eleitorado em geral como estando acima da política. Depois da revisão constitucional de 1982, e da prática política dos sucessivos Presidentes, a Presidência conseguiu acumular um capital importante de boa vontade junto dos portugueses. É certo que para os observadores atentos, o activismo presidencial nunca foi menos que político, e muitas vezes foi partidário. Tanto com Soares e Sampaio nos seus segundos mandatos, como com Cavaco Silva no que já passou do primeiro. Todos os Presidentes usaram os seus poderes formais e informais para influenciar e moldar a formação dos governos, o poder do executivo e a legislação aprovada. Mesmo assim, da política partidária à conspiração existe alguma distância. Em 2009, os portugueses vão ser chamados a votar em três ocasiões. Mas não vão ter descanso. A partir de 28 de Setembro começa a campanha para as presidenciais. Veremos se o silêncio do Presidente prejudica apenas Manuela Ferreira Leite.
Politóloga
marinacosta.lobo@gmail.com
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