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04 de Novembro de 2009 às 11:59

O relógio do poder

Jacques Séguela, o grande publicitário francês que ajudou a eleger François Mitterrand, disse há algum tempo uma frase mortífera: "Aos 50 anos, quando não tens um Rolex, é porque falhastes a vida". Séguela criticava os que tinham obliterado o Presidente...

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Jacques Séguela, o grande publicitário francês que ajudou a eleger François Mitterrand, disse há algum tempo uma frase mortífera: "Aos 50 anos, quando não tens um Rolex, é porque falhastes a vida". Séguela criticava os que tinham obliterado o Presidente Sarkozy por ele ostentar um relógio de marca. Na idade da imagem o Rolex significa poder. E, afinal, quem é que não gosta de insinuar que o tem? Compreende-se, segundo a investigação criminal, a aparente tentação de Manuel Godinho para distribuir relógios como quem dava Smarties.

Oferecer um presente assim é demonstrar a alguém que tem poder. Quem o recebe fica ciente disso. O relógio tornou-se a forma perfeita de fazer acordos de cavalheiros de forma casual e distinta. Oferece-se a imagem do poder em troca do valor do poder. Uma troca justa num mercado cada vez mais concorrencial. Neste mundo, onde a riqueza se tornou uma imagem, o valor do Rolex é simbólico. Ele vale poder. E usá-lo faz lembrar aos outros que ele existe.

Vivemos tempos diferentes, em que tem de se ostentar o poder. É um erro, como sabem os que têm efectivamente poder, mas convém que essa ideia seja credível. Há anos um brilhante colunista do "Financial Times", Joe Rogaly, lembrava que os acordos entre políticos e empresários se faziam em clubes privados, selados com um aperto de mão. Os novos detentores do poder precisam de o mostrar. Por isso vão a restaurantes onde todos os podem ver, ostentam carros de topo de gama e, no pulso, trazem o relógio que proclama o poder que têm.
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