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27 de Abril de 2010 às 11:55

O regresso do marco alemão?

Os países da zona euro em dificuldades, embora estejam em situações de gravidade e características diferentes, têm em comum vários aspectos dos quais é de realçar a baixa produtividade relativa (e padrões de consumo não consentâneos com ela), do...

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Os países da zona euro em dificuldades, embora estejam em situações de gravidade e características diferentes, têm em comum vários aspectos dos quais é de realçar a baixa produtividade relativa (e padrões de consumo não consentâneos com ela), do qual todos os outros problemas em grande parte derivam: deficits comerciais e de transacções, peso da dívida pública relativamente ao PIB, endividamento externo das economias como um todo, reduzidos níveis de poupança, etc. Portugal e a Grécia são os países que fazem o pleno e padecem de todos aqueles males, embora o nosso país em doses mais reduzidas que os gregos. Os outros países têm situações negativas mais focalizadas em alguns sintomas concretos, o que não quer dizer situações globais menos graves, quer pela dimensão, quer por outros aspectos específicos.

Estamos assim perante um conjunto de países que tem de fazer um verdadeiro milagre económico no meio de uma crise mundial extremamente difícil, milagre económico porque terão de expandir as suas economias e simultâneamente reduzir o consumo interno, num quadro de investimentos reduzidos, economias abertas e uma moeda forte que não controlam, ou seja, terão de reforçar vendas ao exterior no momento em que esse é o objectivo de todos os outros seus concorrentes que para tal têm mais margem de manobra. Pode dizer-se que se tratam de missões quase impossíveis, será que alguém o vai conseguir? No quadro actual, dificilmente. Na verdade o que toda a gente espera (ou apenas tem esperança?) é que as coisas se comecem a compor na economia mundial e isso acabe por dar espaço para estes países virem a recuperar-se lentamente ao longo do tempo. Mas, e se assim não for?

Se não for assim, o destino serão as suspensões de pagamentos ao exterior, os incumprimentos, as renegociações de dívida, etc. Poderá isso ser feito no quadro do actual euro? Aqui temos de recordar que ninguém pode (pelo menos em teoria) ser expulso do euro, mas pode sê-lo da UE, o que no entanto seria um caminho complicado e totalmente desintegrador da Europa. Mas, por outro lado, ter países "em default" dentro do euro, além de extremamente complexo seria uma humilhação sem fim para os países da moeda forte (Alemanha, Holanda, Áustria e Finlândia) e um factor de desestabilização das suas economias.

Dentro deste quadro pessimista, mas infelizmente longe de inverosímil, teríamos então uma situação extremamente grave com diversos países sem condições de honrarem os seus compromissos, mas que não poderiam ser expulsos do euro e para os quais a desvalorização da moeda se tornaria uma necessidade cada vez mais premente, e face à concentração do seu comércio dentro da própria Europa o ideal seria mesmo a desvalorização do seu euro em relação ao dos "países europeus de moeda forte".

Ou seja, dado que os incumpridores não podem ser expulsos, nem sair pelo seu pé porque tal levaria à falência generalizada das respectivas economias (endividadas em euros e operando em novas moedas), restaria como solução que fossem as economias fortes a sair do euro, o que nesse quadro seria a melhor solução para todos. Quando isso acontecesse essa nova moeda (ou moedas) teria uma rápida valorização ao mesmo tempo que o euro teria forte desvalorização.

É verdade que as desvalorizações por si só não resolvem nada, elas apenas podem facilitar processos de ajustamento que por outras vias são mais difíceis ou até impossíveis, mas as desvalorizações são operações de reconhecimento de empobrecimento (elas não o criam apenas o reconhecem) e em que é transferida riqueza dos aforradores para os devedores, mas esse é o preço a pagar por quem não faz o que deve, quando deve.

Teríamos duas vias possíveis para um segundo e novo euro, na primeira hipótese a Alemanha abandonava o euro regressando ao marco ou coisa parecida e, de imediato ou posteriormente, algumas das outras economias a seguiam. A via alternativa seria a referida por Martin Taylor (ex-CEO do Barclays) da criação institucional de dois euros, um para o Sul e outro para o Norte (sudo e neuro), nesta hipótese todos os depósitos e compromissos financeiros seriam transformados 50% em cada uma das moedas que a partir desse momento começariam a divergir. Obviamente a primeira via seria a mais interessante para os países do sul.

É curioso voltar a Keynes em 1941 quando no seu texto sobre o novo sistema financeiro internacional defende a criação de várias uniões monetárias, entre as quais a germânica com a Alemanha, Holanda e Áustria (e também Suíça), e a união latina com França, Bélgica, Portugal, Espanha e Itália, neste quadro a Grécia ficava na união balcânica.

O fim do euro tal como o conhecemos é inevitável? Obviamente que não, mas se a crise se agravar o estreito caminho que tem pela frente irá tornar-se cada vez mais difícil e estreito e então poderá não haver outra saída. Seja como for, julgo mais do que nunca indispensável acelerar os mecanismos de controle e concertação das políticas fiscais e orçamentais dentro da Zona Euro, não só porque ainda há esperança, como porque um "novo euro" necessitaria ainda mais daqueles mecanismos.

Economista
http://scurtas.blogspot.com/





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