Opinião
O regresso de Ségolène
Esta semana, a política francesa, a duas semanas da primeira volta legislativa, viu o regresso da mesma Ségolène Royal que parece não assumir a derrota das presidenciais transformando-a numa rampa de lançamento para uma campanha legislativa que se adivinh
Na noite de 6 de Maio, pouco depois de conhecidas as primeiras projecções dando a vitória ao seu rival Nicholas Sarkozy, foi uma Ségolène Royal quase vitoriosa quem primeiro se dirigiu ao eleitorado reconhecendo a vitória do seu rival e anunciando que o dia 6 de Maio era apenas o começo de uma luta por uma nova esquerda e uma nova forma de fazer oposição. Uma oposição forte com Ségolène na primeira linha.
Pouco depois, a candidata socialista anunciou que não tocaria a sua circunscrição por um lugar no Parlamento. Não seria candidata, mas nem por isso deixaria de estar na primeira linha da oposição. Tornou-se claro que Ségolène Royal apontava para a sucessão de François Hollande na liderança do PS francês. Uma sucessão que não será fácil, se esse for o caminho. À partida Ségolène é um corpo estranho ao aparelho partidário. Muitos pensam que o aparelho poderá tender a favorecer a nova geração ou a escolher um líder de transição. Dominique Strauss-Kahn, Laurent Fabius seriam candidatos mais enquadrados num aparelho que os envolve.
Nad, porém, parece estar escrito para esta mulher que sacudiu a política e o eleitorado francês e chamou, mais do que nunca as atenções mundiais para as presidenciais e a politica francesa. Menos de uma semana após a sua derrota presidencial, na reunião do Conselho Nacional do PS, de 12 de Maio, surgiu novamente uma Ségolène combativa. Critica da "indisciplina" do PS e exigindo que no próximo congresso os socialistas definam quem será o seu candidato às presidenciais de 2012. Expõe a sua ambição de conseguir uma ampla coligação das forças de esquerda francesas sem dela excluir o terceiro candidato presidencial François Bayrou, um centrista assumido, nem o PC.
Notícia feita Ségolène Royal desaparece num silêncio discreto e especulativo.
O PS tem o seu congresso previsto para o final de 2008. Mas tudo indicia que François Hollande irá abandonar o lugar mais cedo, possivelmente após as eleições deste mês. Se assim for a Conselho Nacional terá de antecipar o congresso para eleger um novo líder tanto mais que François Hollande sai não por se sentir obrigado mas porque ao fim de dez anos à frente do partido entende ter chegado o momento de abandonar o cargo pelo seu pé tendo mesmo deixado já claro que não irá disputar novo mandato.
A estratégia de Ségolène Royal está dependente do timing que Hollande escolher, ou de um acordo entre os dois. Ségolène pode até nem pretender liderar a oposição como dirigente máxima do PS, pode aspirar a liderar uma coligação alargada ou simplesmente conseguir que o próximo congresso socialista a aponte como candidata para 2012, situação extraordinária que colocaria a França com dois presidentes, um no Eliseu à frente do Governo, outro sem residência oficial à frente da oposição e não sendo deputado inibindo Sarkozy de o confrontar institucionalmente.
Seja como for Ségolène preparou o seu regresso quebrando o silêncio segunda-feira passada numa entrevista à France 2. Ali voltou a sublinhar os princípios defendidos da noite de 6 de Maio preparando também o terreno para o dia seguinte: o grande reencontro da família socialista onde todos os dirigentes se mostraram unidos face ao seu eleitorado e ao eleitorado em geral.
Uma reunião que o maire de Paris fez questão de abrir a "reunião da unidade" como anfitrião que foi. Após uma breve o "maire" saudou os restantes líderes começando por agradecer a Ségolène Royal "aquela que conseguiu reunir 17 milhões de vozes". O mote estava lançado para o que seria uma noite de consagração de Ségolène Royal face aos seus opositores críticos no PS. Ségolène pegou o seu tema preferido da "nova oposição", reafirmou-se pronta a todos os combates e conseguiu cinco minutos consecutivos de ovação que ninguém conseguiu abreviar, nem mesmo as tentativas do primeiro secretário da federação de Paris. Os críticos de Ségolène conseguiram mesmo alguns assobios.
O cenário está montado. Importa saber se a ex-candidata presidencial irá rapidamente aceitar a sua parte da responsabilidade na derrota eleitoral, continuar confiante reconhecendo os seus erros e admitindo que outros também podem estar certos. Importa saber qual vai ser o timing de François Hollande e, sobretudo o grau de envolvimento de Ségolène Royal numa disputa eleitoral onde não é candidata. Até agora, nas sondagens, o PS não conseguiu descolar dos 30 por cento vendo as forças que apoiam Sarkozy subir progressivamente.