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18 de Abril de 2005 às 13:59

O poder do dólar

Raul parece ler-me o pensamento e interpela-me: «Isto agora está bom para vocês, com o câmbio e tudo...». Aquiesci, sorrindo. «Pois», continua, retribuindo-me o sorriso.

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Chegado ao aeroporto de Newark, em transbordo para uma ansiada viagem à Costa Rica, deparo-me com as intermináveis filas da alfândega. No longo período de espera que se segue, entretenho-me a pensar na sessão de «shopping» que me aguarda.

Afinal, o euro compra 1,30 dólares, tornando a aquisição de uma máquina de filmar e afins muito mais barata do que em Portugal. Sou finalmente atendido pelo alfandegário de serviço. Raul Lopez, cidadão americano de traços hispânicos, exerce o seu trabalho numa monotonia maquinal. Olhos baixos sobre os documentos, inicia o questionário da praxe.

«De onde vem? Para onde vai? Ponha aqui o dedo para impressão digital... Aproxime agora o olho da máquina». Um procedimento aborrecido a que obedeço enquanto pondero as vantagens de viajar quando se tem uma moeda mais forte.

Raul parece ler-me o pensamento e interpela-me: «Isto agora está bom para vocês, com o câmbio e tudo...».

Aquiesci, sorrindo. «Pois», continua, retribuindo-me o sorriso. «O dólar tem estado a cair porque tem um défice comercial enorme. Mas com isso atraímos cada vez mais turistas do euro que agora gastam cá muito mais do que antes». Percebo o rumo da conversa e antecipo o raciocínio dele:

«Já sei, compramos dólares, ajudamos as vossas exportações e assim reduz-se o défice e a moeda vai recuperando». Raul ri-se com a simplicidade da equação e prossegue com a argumentação: «A vossa moeda pode ser mais forte, mas continuamos a viver melhor. Faça lá as contas: quanto custa um litro de gasolina em Portugal?».

Pouco mais do que um dólar, respondo. «Aqui um galão custa pouco mais de dois dólares, mas vocês têm o sistema métrico e precisam de quase quatro litros para comprar um galão». Com isto, carimba-me o passaporte e despede-se com a típica saudação: «Bem vindo aos Estados Unidos da América, sir».

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