Opinião
O Mundial da globalização
O historiador britânico sr. Eric Hobsbawn disse há uns tempos que o futebol realça o principal conflito da globalização. Ou seja, a complexa relação entre o comércio total e a emoção nacionalista que divide os adeptos.
O historiador britânico sr. Eric Hobsbawn disse há uns tempos que o futebol realça o principal conflito da globalização. Ou seja, a complexa relação entre o comércio total e a emoção nacionalista que divide os adeptos. Mais interessante ainda: os fãs que se deslocam aos estádios são vistos como meros acessórios de uma indústria televisiva e publicitária, onde os jogadores fazem de actores de Hollywood. Não admira que esteja a conquistar a América. Há alguns anos o sr. Eduardo Galeano dizia que a "FIFA é o FMI do futebol". Não admira que o Mundial, o ponta-de-lança da nova ordem económica na área futebolística, tenha funcionado como conquistador de novos mercados: a Ásia e, agora, a África. O poder económico da FIFA não tem fronteiras: por alguma razão tem mais associados do que a ONU.
Mas se o Mundial é hoje, sobretudo, negócio, ele continua a ser um território propício às emoções. Apesar de as tácticas futebolísticas estarem a uniformizar-se, como foi visível na primeira fase desta competição. Os sistemas são cada vez mais decalcados do que se vê na Europa (as próprias selecções africanas estão a perder a sua anarquia táctica). Joga-se de forma calculista. Os sistemas típicos italianos doados ao mundo pelo sr. Helénio Herrera e seus sucessores estão já presentes em selecções como a inglesa (por imposição do sr. Fábio Capello) e, pior, estão a contaminar equipas como a brasileira, onde o chamado "jogo bonito", que fez alegrias em todo o mundo, está hoje reduzido ao talento do sr. Robinho, do sr, Kaká e do sr. Maicon. Custa ver como o sr. Dunga, antigo médio defensivo, não o esqueçamos, tornou o Brasil uma selecção sem brilho.
O velho futebol diferenciado e empolgante está reduzido a poucas selecções: à Argentina, à Espanha e, de outra maneira, à Alemanha. A Argentina é, indiscutivelmente, a selecção que mais empolga. A começar pelo gestor do caos, o sr. Maradona, e até a um grupo de jogadores maravilhosos que arriscam o ataque, sem demasiadas tentações defensivas e sem que o medo lhes tolha o drible. O sr. Maradona tem o melhor jogador do mundo (o sr. Messi), mas tem também uma personalidade suficientemente controversa para que ninguém fique indiferente ao que ele diz. Quando o sr. Queiroz fala, o que acontece? Encolhemos os ombros e bocejamos. Quando o sr. Maradona diz que desfilará nu junto ao célebre obelisco de Buenos Aires se a Argentina ganhar o Mundial, o saboroso caos do melhor futebol instala-se. E ninguém fica indiferente ao que diz.
Global, o futebol está mais igual. Mas os adeptos ainda continuam a fazer a diferença.
Mas se o Mundial é hoje, sobretudo, negócio, ele continua a ser um território propício às emoções. Apesar de as tácticas futebolísticas estarem a uniformizar-se, como foi visível na primeira fase desta competição. Os sistemas são cada vez mais decalcados do que se vê na Europa (as próprias selecções africanas estão a perder a sua anarquia táctica). Joga-se de forma calculista. Os sistemas típicos italianos doados ao mundo pelo sr. Helénio Herrera e seus sucessores estão já presentes em selecções como a inglesa (por imposição do sr. Fábio Capello) e, pior, estão a contaminar equipas como a brasileira, onde o chamado "jogo bonito", que fez alegrias em todo o mundo, está hoje reduzido ao talento do sr. Robinho, do sr, Kaká e do sr. Maicon. Custa ver como o sr. Dunga, antigo médio defensivo, não o esqueçamos, tornou o Brasil uma selecção sem brilho.
Global, o futebol está mais igual. Mas os adeptos ainda continuam a fazer a diferença.
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