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13 de Março de 2006 às 13:59

O «modelo finlandês» e a aposta na inovação

Na semana em que completou um ano de governação, José Sócrates, acompanhado por Manuel Pinho e Mariano Gago, visitou em 6 de Março último a Finlândia. No intuito de aproveitar a experiência finlandesa no que respeita ao desenvolvimento e à aposta central

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No intuito de aproveitar a experiência finlandesa no que respeita ao desenvolvimento e à aposta central na inovação, na educação e na tecnologia a comitiva portuguesa procurou ainda promover a cooperação com três importantes agências finlandesas – uma vocacionada para o capital de risco (Sitra), outra para a inovação tecnológica (Tekes) e outra para a ligação entre as universidades e as empresas (Academia da Finlândia). 

Membro da União Europeia desde 1995, a Finlândia pertence ao grupo dos países mais influentes no mundo da política internacional e é, para muitos, um importante «case study» que permite compreender como é possível na actualidade conciliar simultaneamente competitividade, produtividade e inclusão social. 

Vizinho da Suécia, da Noruega, da Rússia (com as quais partilha fronteiras terrestres) e da Estónia (do outro lado do Golfo da Finlândia) este pequeno país – que é o mais arborizado da Europa, com uma floresta de 23 milhões de hectares – conta com apenas 5,2 milhões de habitantes e uma densidade populacional baixa: 17 habitantes por Km2.

A nível político a Finlândia tem como actual chefe de Estado a Presidente da República Tarja Halonen e como Primeiro-ministro Matti Vanhanen. Social-democrata e antiga sindicalista Tarja Halonen, de 62 anos, tornou-se em 2000 a primeira mulher a ser eleita presidente da Finlândia, tendo sido em Janeiro de 2006 reeleita para um segundo mandato. Esta reeleição faz com que a Finlândia experimente três décadas ininterruptas de social-democracia na presidência do Estado. No exercício do seu cargo Halonen goza de uma popularidade pouco comum entre os políticos, a que não deverá ser alheia a defesa da consolidação de um Estado promotor do bem-estar social e uma postura política de proximidade aos cidadãos.

Mas se no plano social nem tudo é «rosa» – não obstante uma tendência para a diminuição, a Finlândia debate-se com uma taxa de desemprego de 8,2%, compensada socialmente por um esforço em manter um alto nível de tutela social no desemprego – no plano económico a situação é bem mais risonha. A Finlândia começou a sua industrialização no século XIX com a exploração de recursos florestais, matéria-prima que foi central, ao longo de muitos anos, para alimentar a principal indústria do país: a produção de papel. Contudo a estrutura industrial finlandesa conheceu uma forte mudança ao longo das últimas três décadas. A indústria da pasta de papel que representava mais de metade das exportações passou para terceiro lugar, atrás de dois grandes sectores de exportação: a electrónica e a metalurgia. Em particular, o sector electrónico foi aquele que registou a maior expansão ao longo da década de 1990, assente sobretudo na produção de telemóveis e de outros equipamentos de telecomunicações e o que mais contribuiu para que a Finlândia alcançasse, de 1995 a 2003, os índices mais elevados de produtividade mundial (superando os dos EUA). Por exemplo, a emblemática Nokia – que há cerca de 8 anos vivia uma situação financeira difícil, produzindo desde televisores até papel higiénico – concentrou a sua produção nos telemóveis e é, hoje, líder mundial do mercado de telecomunicações, possuindo várias fábricas na Finlândia, na Alemanha, na Hungria e nos chamados «mercados emergentes», em particular na China, mas também no Brasil, na Índia e na Coreia do Sul. 

De acordo com os relatórios do World Economic Forum a economia finlandesa é, desde 2002, a mais competitiva do mundo. E os dados divulgados em Setembro último pelo World Economic Forum confirmam que a Finlândia detém a primeira posição em termos de competitividade e crescimento (que se traduz em potencial de expansão económica a médio e a longo prazo).

Para este sucesso, muito contribuiu a forte aposta nacional feita nos últimos anos em I&D, particularmente em tecnologias de informação. Diversos fundos públicos – criteriosamente seleccionados – foram dirigidos à promoção da inovação em meio empresarial, encorajando (e pressupondo) uma importante colaboração entre o meio empresarial e o meio universitário. Acresce que a racionalidade na gestão destes fundos – que tem garantido a aplicação prática e resultados empresariais efectivos – tem sido um dos segredos do «modelo finlandês».

Ora, e tal como realçou Manuel Pinho, também em Portugal – no âmbito do conjunto articulado de medidas transversais que integram o Plano Tecnológico, direccionadas para três grandes áreas: o conhecimento, a tecnologia e a inovação – é preciso promover a participação dos agentes económicos e da sociedade civil no processo de modernização do país, nomeadamente através da concretização e da avaliação do que se considera estratégico para a competitividade do país.

É, em particular, fundamental criar uma política de competitividade, nomeadamente através da acção de sociedades de capital de risco, que passe pelo incremento da inovação nas empresas. Estas sociedades podem ter um papel decisivo na concretização de iniciativas empresariais, transformando-se em parceiros de negócio das empresas.

Eleita como uma das peças essenciais da actual política económica, o Plano Tecnológico tem uma dupla importância estratégica, uma vez que procura implementar medidas e promover o desenvolvimento económico sustentado mas também criar uma dinâmica institucional favorável ao desempenho dos agentes económicos que invistam em Portugal. Além disso, a ser concretizado - e porque pode significar um aumento do investimento em I&D até 2010, para 1,8% do PIB – trata-se, sem dúvida, do plano económico mais ambicioso das últimas décadas, pensado também para as próximas gerações.

A experiência da Finlândia demonstra que, apesar das recentes dificuldades em «reinventar» novos modelos económico-sociais, a via que promove a criação de um espaço económico competitivo baseado na inovação e na coesão social e ainda na mobilização conjunta das partes interessadas – empregadores e sindicatos – parece ser a melhor para elevar a produtividade e a competitividade de um país. E esta é, certamente, uma boa fonte de inspiração política.

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