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27 de Janeiro de 2014 às 09:27

O grande problema dos investidores

O investidor típico, pressuroso a vender e a evitar a angústia de períodos sempre inevitáveis de perdas, consegue em média menos 6% que o mercado (Stockopedia), isto, enquanto Buffett conseguiu, em 40 anos, mais 19%.

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Warren Buffett, o homem que em 2013 mais dinheiro ganhou no mundo, é por muitos considerado o melhor investidor da sua geração, embora não use nem computadores nem telemóvel, não seja avaro na generosidade (85% da sua fortuna destinada à filantropia) e esteja a lutar com um cancro.


É certo que foi discípulo de Graham, o "pai" da análise fundamental; e é certo que combina sinergeticamente um moderado grau (1.6) de alavancagem com uma menos que moderada (70%) exposição ao mercado. Tal pesará, sem dúvida, mas note-se que, em termos de rendibilidade/risco (Sharp) o seu score (0.8 contra 0.4 do Mercado) nem é particularmente elevado. Mas já o é numa óptica de crescimento sustentado (1.000.000% em 40 anos!).


Que tem Buffett que o investidor típico não tem? Pelo menos (e quiçá decisivamente) uma firme confiança na sua estratégia de investimento e que o leva a suportar, sem se "render", perdas de mais de 50%, o que por 3 vezes na sua vida já lhe sucedeu, sendo que, numa delas (1998-2000), chegou a estar a perder 76% relativamente ao mercado!

 

Percam-se os anéis mas… salvem-se os dedos
Isto, enquanto o investidor típico desmoraliza e perde rapidamente a confiança ante perdas superiores a 5-10%. Quando tal ocorre, começa, perversamente, a insinuar-se a ideia de poder ser imerecida a confiança inicialmente depositada na estratégia utilizada, seja porque entrementes os mercados mudaram estruturalmente, seja porque a mesma pode ter nascido já torta, e quem torto nasce….


A directa consequência é que o investidor típico, ante a perspectiva de vender e perder pouco agora, ou de "aguentar" estoicamente e vir a perder muito, mais tarde, opta prudentemente pela primeira alternativa, com a autojustificação de "percam-se os anéis …". Assim, uma perda apenas potencial e possivelmente reversível, transforma-se num facto consumado e irreversível. Tal poderia isoladamente não ser significativo mas, reiterado, o que é pouco no imediato, transforma-se em muito, no futuro. A directa consequência é que o investidor típico, pressuroso a vender e a evitar a angústia de períodos sempre inevitáveis de perdas, consegue em média menos 6% que o mercado (Stockopedia), isto, enquanto Buffett conseguiu, em 40 anos, mais 19%. Tal dicotomia sintetiza eloquentemente o que designámos em título como o "Grande problema do investidor" e que, em essência, se traduz numa questão de confiança na estratégia de investimento prosseguida. Se a confiança for robusta e fundada em razões objectivas, o sucesso é provável. Não o sendo, como para o investidor típico nunca o é (e, se o for, trata-se possivelmente de um excesso e uma "emenda pior que o soneto"), então o resultado é similar ao que acontece algo misteriosamente com o investimento em fundos: resultados inferiores aos que os próprios fundos proporcionam.


O caso, aliás, dos fundos é particularmente interessante, dada uma generalidade temporal e geográfica que infelizmente não nos exclui. De facto, afigura-se paradoxal como é que em média os investidores em fundos se autocondenam a obter resultados inferiores (Dalbar) àqueles. A explicação estará essencialmente na reacção precipitada a perdas, interpretadas como augúrio de possíveis maiores perdas no futuro, o que motiva vendas apressadas tornando irreversíveis prejuízos que não o eram ainda.


O que se pode fazer
Concluindo: atendendo à instabilidade (não estacionaridade) dos mercados, não existe um "ovo de Colombo" para o titulado "grande problema dos investidores"; apenas e tão só formas de o mitigar. Ora, numa altura em que é tão urgente estimular a poupança, não desperdiçando a oportunidade de o fazer pela via positiva de melhorar os resultados conseguidos pelos investidores, afigura-se pertinente reforçar o que em tal sentido já é concretizado em três vertentes:


A primeira, visa o aumento da cultura de investimento, e é levada a cabo pela imprensa especializada em sintonia com as boas intenções do Plano Nacional de Literacia Financeira;


A segunda, e que tem suscitado particular atenção no período pós-2008, consiste em levar ao limite do competitivamente possível a divulgação do racional das estratégias utilizadas. Isto no sentido não só de contrariar exemplos passados infelizes de "esqueletos escondidos" que levam tempo a revelarem-se, mas, também, de instilar confiança e de assim criar imunização contra tentações de vendas precipitadas;


A terceira, visa promover o recurso a técnicas de simulação e de cenários em ordem a possibilitar ao investidor incrementar a confiança na estratégia que se propõe seguir e a criar-lhe resiliência.

 


* Consultor da Caixa Gestão de Activos

(Os pontos de vista expressos são da responsabilidade do autor)

 

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