Opinião
O divã de Portugal
Portugal é um verdadeiro muro das lamentações. Todos encontram lá algum conforto para o que os faz lacrimejar. O país tornou-se um divã estilo colchão molaflex: adapta-se às costas de cada português.
Ali uns podem queixar-se da educação, outros da globalização, alguns dos Estado, uns quantos do sector privado. E todos uns dos outros. A culpa de cada um é, assim, varrida para debaixo da cama. Enquanto isso serviços que deveriam ser dos mais acarinhados do país são esquecidos. Dou um exemplo: o Instituto de Higiene e Medicina Tropical. Portugal tem uma memória de análise de doenças tropicais que não deveria esquecer. Ali há um laboratório de altíssima qualidade. O país, nos últimos anos, tem inúmeros recursos humanos a trabalhar em países onde a malária é endémica. O Instituto é procurado por trabalhadores e simples turistas que vão para territórios que investigadores portugueses percorreram durante centenas de anos. Mas, quando é necessário recorrer aos seus serviços (onde há trabalhadores e investigadores dedicados) descobre-se que o Instituto dispõe de um único fax e de uma única fotocopiadora. Há aqui, neste país onde se discute tantas coisas mais ou menos importantes, algo que não se entende. Se tivesse percorrido Portugal, D. Quixote tinha aqui um óptimo moinho contra o qual poderia investir. Mas como este Instituto vai vivendo da boa vontade dos seus funcionários, ninguém chora por este esquecimento do Estado. Que está a dormir no seu divã.
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