Opinião
O desafio de Homer
Findo o reinado de Merkozy, o eixo franco-alemão passará a ter Homer (Hollande-Merkel) à frente dos seus destinos. O jogo de palavras correu célere na blogosfera e logo houve quem questionasse qual dos Homer nos espera.
Findo o reinado de Merkozy, o eixo franco-alemão passará a ter Homer (Hollande-Merkel) à frente dos seus destinos. O jogo de palavras correu célere na blogosfera e logo houve quem questionasse qual dos Homer nos espera. Se o personagem criado por Matt Groening para os Simpson, que o Sunday Times baptizou como "a maior criação dos desenhos animados da era moderna", se o autor épico – possivelmente também fictício – que nos legou a Ilíada e a Odisseia.
O primeiro encontro entre os dois – imediatamente após a tomada de posse de François Hollande – e as curtas palavras de circunstância que se lhe seguiram poucas conclusões permitirão tirar. Além do pequeno episódio que atrasou significativamente o início da reunião (o avião em que se deslocava Hollande foi obrigado a regressar ao ponto de partida depois de aparentemente ter sido atingido por um raio), é o gesto que marca a diferença, sobretudo se nos lembrarmos que, há 5 anos, Sarkozy fez idêntica deslocação, mas com diferente destino: o Reino Unido. Outros tempos, outras vontades, que a tempestade que se abateu entretanto sobre os Estados Unidos e sobre a Europa se encarregaram de fazer mudar mais do que seria expectável.
De uma forma mais ou menos constante, a história do projecto europeu e dos seus sucessos teve sempre na base o chamado eixo franco-alemão. Mas a relação de forças hoje em dia é substancialmente diferente. A Alemanha segue claramente mais à frente, bem distanciada dos seus parceiros, e a França há já muitos anos que dá sinais de visível enfraquecimento. Ainda no início deste século, quase 50% dos alemães consideravam o país vizinho como o seu principal amigo e parceiro. Hoje ficam-se pelos 18%. Por muito que Merkel diga, como ontem fez no final da reunião, que "existem pontos de convergência e posições um pouco diferentes, mas na praça pública sublinham-se mais diferenças do que aquelas que existem na realidade", as variáveis da equação, do ponto de vista alemão, não se alteraram: crescimento, sim – previsto, aliás, no tratado orçamental, como Merkel não se esqueceu de lembrar –, mas no quadro de uma séria disciplina orçamental.
O desafio de Homer é gigantesco. A Grécia é um problema sem fim, nem aparente solução, de eleição em eleição, à beira de um salve-se quem puder, bem ilustrado pela corrida aos bancos, num prenúncio claro de que poucos já acreditam na permanência no Euro. De Espanha e de Itália (mas também da Holanda e da própria França) chegam quase só más notícias. Portugal faz aquilo com que se comprometeu e até dá sinais de estar a conseguir fazer melhor do que o que era previsível, mas paga um preço elevadíssimo em termos de desemprego e – como aqueles clubes de futebol que não amealharam os pontos necessários em devido tempo – sabe que já não depende apenas de si.
No início da crise, a Europa acreditou que a solução seria deitar dinheiro para cima dos problemas; o dinheiro foi-se e os problemas agravaram-se. Daí passámos para o extremo oposto: subiram-se ainda mais os impostos, cortou-se (quase) tudo o que havia para cortar, mas, com algumas honrosas excepções, a economia definha e os problemas agravaram-se. Homer vai ter agora de cozinhar a poção mágica. Mas já não seria mau se se entendesse quanto aos ingredientes
* Advogado
O primeiro encontro entre os dois – imediatamente após a tomada de posse de François Hollande – e as curtas palavras de circunstância que se lhe seguiram poucas conclusões permitirão tirar. Além do pequeno episódio que atrasou significativamente o início da reunião (o avião em que se deslocava Hollande foi obrigado a regressar ao ponto de partida depois de aparentemente ter sido atingido por um raio), é o gesto que marca a diferença, sobretudo se nos lembrarmos que, há 5 anos, Sarkozy fez idêntica deslocação, mas com diferente destino: o Reino Unido. Outros tempos, outras vontades, que a tempestade que se abateu entretanto sobre os Estados Unidos e sobre a Europa se encarregaram de fazer mudar mais do que seria expectável.
O desafio de Homer é gigantesco. A Grécia é um problema sem fim, nem aparente solução, de eleição em eleição, à beira de um salve-se quem puder, bem ilustrado pela corrida aos bancos, num prenúncio claro de que poucos já acreditam na permanência no Euro. De Espanha e de Itália (mas também da Holanda e da própria França) chegam quase só más notícias. Portugal faz aquilo com que se comprometeu e até dá sinais de estar a conseguir fazer melhor do que o que era previsível, mas paga um preço elevadíssimo em termos de desemprego e – como aqueles clubes de futebol que não amealharam os pontos necessários em devido tempo – sabe que já não depende apenas de si.
No início da crise, a Europa acreditou que a solução seria deitar dinheiro para cima dos problemas; o dinheiro foi-se e os problemas agravaram-se. Daí passámos para o extremo oposto: subiram-se ainda mais os impostos, cortou-se (quase) tudo o que havia para cortar, mas, com algumas honrosas excepções, a economia definha e os problemas agravaram-se. Homer vai ter agora de cozinhar a poção mágica. Mas já não seria mau se se entendesse quanto aos ingredientes
* Advogado
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