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No reino do Tim Tim

Um aeródromo que se cruza com uma estrada parecia coisa do Tim Tim, do 007, ou do Indiana Jones. A realidade ultrapassa a ficção, disse não sei quem, e rima com o facto. E o facto é que esta bizarria está registada nos mapas, nos austeros arquivos da Admi

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Segredam-me que, no País, há mais casos similares, pretexto para divertidíssimas anedotas. É tudo a rir, modo que o português perfilha para sepultar os desalentos pessoais e as leviandades dos governantes - que mantêm há longos anos esta trágica aberração.

Um orçamento rectificativo que tropeça em erros de monta, e cujo desacerto o governo minimiza num palavreado chocho e displicente - parecia coisa dos Monty Python, ou do Gato Fedorento. Não é. Trata-se de produto do governo «socialista», incapaz de deixar de regalar com sucessivos disparates os seus numerosos indefectíveis. Porém, como a oposição não inspira receios, e o povoléu vive compenetrado da necessidade iniludível de sobreviver a todo o custo, o episódio fica-se pela caricatura.

As designações mordentes não deixam em paz o famoso Manuel Maria Carrilho. Não gosto da criatura. Mas acho miserável o que se tem dito e escrito de Bárbara Guimarães. O zeloso cuidado de certos preopinantes em enxovalhá-la atinge as raias do indecoroso. Bárbara apenas fez o que outras mulheres de políticos anteriormente fizeram, sem o gáudio rasca destes recoveiros: esteve ao lado do marido, no cumprimento de episódicas circunstâncias. E comentários houve a merecerem a bengalada pedagógica. O incidente assumiu as proporções sórdidas do que se regista, por exemplo, na América Latina, onde a imprensa marron é especialista em tunanterias deste quilate.

Há dias, num debate em que intervim, disse que a Imprensa existe amortalhada por inexistência de valores, de princípios e de ética. Até de causas. E, também, por medo e precaução. Há uma derrocada cívica na maioria da Imprensa, que perde, sistematicamente, a força adveniente das suas Redacções, porque estas abdicaram, ociosamente, de contestar e de criticar a natureza intrínseca do produto final.

É aqui que tenho de dar inteira razão ao Pacheco Pereira, analista tenaz dessa irresponsabilidade intelectual que transforma consumidores de jornais em desacordados cidadãos. À Imprensa portuguesa falta a causa de si mesma, à custa de manter uma falsa essência «teórica» como garantia do seu existir. Essa falaciosa «pureza» tem conduzido ao seu descrédito progressivo, como, aliás, está a acontecer na Imprensa de outras nações, excepção feita a «El Pais», certamente o melhor diário europeu - que não receia ter cor, avocar a coragem das suas opções, e não ser indolor.

Em Portugal, os saneamentos, as rescisões «amigáveis» de contrato, o afastamento compulsivo de jornalistas recalcitrantes fez suspender uma honrada tradição de liberdade e de solidariedade entre os jornalistas que nem o pequeno fascismo santa-combadense consegui suprimir. E essas noções de valor, nada tinham a ver com razões corporativas. E se tivessem?

A embrulhada do orçamento constituiu uma outra embrulhada nos jornais «de referência», e outra vitória informativa do «Correio da Manhã». O matutino não venceu inimigos nem reuniu adeptos: limitou-se a cumprir a função presumivelmente atribuída à Imprensa. Com modéstia, aplicação, desvelo e profissionalismo noticiou a clarificou.

Apraz-me escrever isto, tanto mais que a inabilidade pretensiosa dos «de referência» é, apenas, hilariante. E os interesses dos leitores podem aferir-se pelas suas recusas e aceitações. Um de esses, «de referência», perde tiragem, todos os dias, porque inferior em serviços e abusivo nas omissões e na univocidade. A opinião e os juízos que expende têm cada vez menos influência: triagem cultural, supressão de nomes incómodos, ascensão celerada de pequenos mercadores de futilidades. Sei do que falo.

O «Correio da Manhã» imprime o crime que os «outros» cancelam por soberba, e noticia muito melhor os acontecimentos de que os «outros» infantilmente proclamam pertencer à sua área. Certamente regressarei a este assunto.

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