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Não são de confiança

Porque avança Carlos Tavares para o abismo? Porque não tem alternativas. Já vimos casos destes. Na Lisnave e na Grão-Pará. Onde o ministro do momento se safa e o Estado sempre se trama.

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O acordo com a Eni é irreversível - foi esta a garantia dada anteontem por Carlos Tavares e não há como duvidar. Afinal, palavra de ministro é palavra de ministro. Porque será, então, que o país não respirou de alívio? Pior: porque será que há quem, como São Tomé, só vai acreditar depois de ver.

Simples. Porque, na mesma ocasião, o grupo italiano fez saber que, sim é verdade, o projecto de acordo relativo à sua presença em Portugal existe, mas acrescentou outra informação no mínimo intrigante: agora "irá ser analisado pelo presidente-executivo" da Eni, o senhor Vitorio Mincato.

Há uma coisa que, nem o nosso ministro da Economia português, nem qualquer habitante do planeta, algum dia irão explicar: como é que um "acordo irreversível" vai ainda ser submetido à aprovação final de quem quer que seja?

Esta contradição de termos não seria grave se o senhor Mincato fosse outra pessoa diferente daquela que, não há muito tempo, deu o dito por não dito e deixou toda a gente de boca aberta em plena assembleia geral da Galp.

Porque é este senhor Mincato o mesmo que, depois de negociado e fechado acordo com o Estado, chegou a essa reunião de accionistas e votou contra o modelo de reestruturação do sector energético, bloqueando-o até hoje.

Foi esse senhor Mincato que, depois deste golpe de teatro, depois de ter deixado um ministro descalço e o engenheiro Talone indignado em plena assembleia geral, veio desculpar-se com um problema de tradução.

Sem rodeios, a questão essencial é que esta gente já deu provas mais que suficientes de não ser confiável. Quando, há mais de um ano, a administração da Galp veio publicamente denunciar o fracasso da parceria com a Eni e propôs a dissolução do casamento, ainda restava a dúvida de quem era a culpa.

Mas quando, a administração da Galp foi afastada do processo e os italianos ficaram a falar com a administração da EDP, João Talone percebeu perfeitamente com quem estava a lidar. Como acreditar num parceiro que reabre hoje os dossiers que ontem tinha fechado?

Carlos Tavares, que é tudo menos ingénuo, tem certamente outros dados para agora confiar na "irreversibilidade" de uma proposta de acordo que está na cabeceira do quarto do senhor Mincato, para ele ler numa noite de insónias. O ministro confia no acordo de parceria, mas é impossível que confie no parceiro.

Por isso, o país não acredita e muito menos respira de alívio. Não acredita numa história que já tem demasiados episódios estranhos (o envolvimento de Martins da Cruz e de Carlucci é o picante que sempre aparece nos últimos capítulos de qualquer telenovela rasca). E não respira de alívio, porque sabe que o facto de estar tudo a postos, neste caso, significa que nada está em ordem.

Então porque avança Carlos Tavares para o abismo? Porque não tem alternativas. O seu destino ficou, ingloriamente, amarrado a dois casos que, dê por onde der, só podem dar certo. A reestruturação da energia é um deles. A privatização da Portucel é outra. Já vimos casos destes. Na Lisnave e na Grão-Pará. Onde o ministro se safa e o Estado se trama.

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